dezembro 17, 2010

Através do vidro

A minha vida toda (toda mesmo) fui uma criança dessas que ficam com a cara grudada em uma vitrine, desejando algo que nunca poderão ter.
A minha vida inteira, estive olhando algo através do vidro.
Meus pais, felizmente, durante minha infância tiveram condições de me dar os melhores presentes, a melhor alimentação, e o mais importante: carinho. Mas isso durou apenas a infância. Um dia todos tem que crescer.
E eu cresci olhando as famílias reunidas através do vidro; as garotas bonitas; os colegas que tinham dinheiro para comprar as melhores coisas (já que a situação financeira dos meus pais decaiu); o garoto no qual eu pensava que um dia me amaria; estudantes podendo estudar de verdade; entre outras coisas.
Eu pensava que estava curada de todo esse mal que me separa das coisas que desejei, mas hoje, mais do que nunca, ele permanece forte. Hoje, eu simplesmente observo a vida alheia através do vidro.
Todas essas situações me deixaram péssima, claro. Fizeram eu me sentir menor, pior, horrível, nada. Me fizeram querer mais mal, talvez a mim, talvez àqueles que levam uma vida melhor...

Disso, nada concluo.
Só continuo achando que a vida não é justa. E eu sou uma idiota.



"Eu estou te olhando através do vidro
Não sei quanto tempo se passou
Oh Deus, parece uma eternidade... "

B.

dezembro 15, 2010

Ninguém.


Hoje estou com vontade de desistir de tudo. Dos sonhos, das minhas vontades, do que ainda me faz viver, e todas essas coisas que a gente descarta quando nos sentimos desolados. Estou desiludida. Já não encanto mais ninguém, já não sou boa em nada que faço. Hoje eu não tenho mais utilidade nenhuma. Olho pra mim e vejo... nada vejo ! Não sou ninguém e passei a aceitar isso a partir de agora. Nada em minha volta me interessa, vocês não são o que eu procuro. O que eu procuro está distante. O que eu procuro, pra uma pessoa-ninguém como eu, é inalcansável. Vi as coisas inspiradoras e otimistas que escrevi, sobre correr atrás dos sonhos, persegui-los, acreditar, e... Que merda é essa ? Nada disso existe mais. E talvez nunca tenha existido. Não fui feita para me satisfazer com apenas o idealizado. E o concreto não é fácil, nem rápido, nem certo, nem real. Tudo o que pensei ser até hoje não é real. Mas hoje sou real. Sou o que sempre fui, e deveria ter me contentado com isso : Ninguém.



B.

dezembro 05, 2010

Ainda

Ainda como as migalhas de pão
Ainda tenho medo do meu futuro
Ainda choro quando leio notícias de vestibular
Ainda tenho inveja de quem é mais feliz que eu
Ainda olho pra baixo quando não sei o que dizer
Ainda me olho no espelho quando não sei o que fazer
Ainda me desespero quando não sei como me resolver
Ainda procuro pela solidão
Ainda desprezo conversas fáceis
Ainda desisto de resoluções difíceis
Ainda rezo quando acho que estou morrendo
Ainda creio em Deus
Ainda creio na arte
Ainda creio na música
Ainda creio nas pessoas
Ainda gosto da cor preta
Ainda não aprendi a tocar nenhum instrumento que meu pai me deu
Ainda me sinto triste quando chove
Ainda tenho medo de fantasmas
Ainda me sinto sozinha
Ainda me inspiro em coisas impróprias
Ainda me emociono em filmes
Ainda me presenteio
Ainda tenho dívidas financeiras
Ainda admiro meus ídolos
Ainda prefiro gatos
Ainda tento pensar positivo
Ainda penso negativo
Ainda reclamo de tudo
Ainda acho a vida uma vadia
Ainda acho a minha vida uma putaria
Ainda falo palavrões
Ainda faço comparações
Ainda sou sociável
Ainda exagero
Ainda sinto
Ainda repito
Ainda me excito
Ainda estou viva
Ainda não mudei
Ainda sou eu

Afinal, sou eu, Ainda.


B.

novembro 30, 2010

Semelhanças

Ontem à noite vi o carinha do supermercado no ponto de ônibus. Eu gosto dele. Gosto da voz dele também, e da forma como ele me atende quando vou comprar algo.
E eu sei porque gosto tanto. É porque ele me lembra meu André.
Não sei se é a cara de menino, ou o sorriso quase transparente. Mas quando o vejo me derreto em simpatia simplesmente por ter semelhanças físicas com uma pessoa que amo e não posso abraçar.
De fato, eu não amo o carinha do supermercado. Mas talvez me sentiria aliviada ao abraçá-lo.
Isso sempre aconteceu comigo. Sempre tenho esse carinho por pessoas que se parecem com queridos meus. E ontem, também, vi uma garota que me lembrou Karina. Uma japonesa que estudou comigo no prézinho, e após se mudar para o Sul, me escreveu durante um ou dois anos. Derrepente parei no meio da calçada, assustada, porque me veio o seguinte pensamento: A Karina quem faleceu ano retrasado ???
Não. Não foi Karina. Aliás, ela está bem viva. Mais viva do que eu. Foi outra japonesa, colega minha, quem infelizmente partiu.
Esses confusões me fazem mal. Que bom que são poucas pessoas que se parecem com outras. Que bom que ninguém se parece comigo. Ou não... porque eu gostaria de ser parecida com Brigitte Bardot. Enfim.
Voltando ao carinha do supermercado, penso seriamente em qualquer dia, do nada, agradecê-lo. Simplesmente por me dar um sorriso toda vez que apareço por lá para comprar algo, pela atenção que ele me dá quando pergunto (sempre!) o preço das saladas embaladas. E principalmente por me confortar, ao lembrar do meu André.
Talvez ele deboche de mim. E eu pouco me importo. Pois ele talvez um dia ame alguém, como eu amo meu André.



B.

novembro 21, 2010

Presente

- Toma! É pra você.
- Não precisava…
- Mas eu quis te dar.
- Já falei que não precisava.
- Presente é presente! Aceita.
- Tá. Mas se eu não gostar posso trocar ?
- Trocar ? Ah. Ué. Presente não se troca…
- E como você espera que eu use alguma coisa que não me serve ?
- Mas vai servir !
- Eu não te amo, Brï. Entenda.


(That's what Andreas do with me all the time.)




B.

novembro 08, 2010

Brï lhando

Sempre gostei de parques de diversões. Dos brinquedos, das pessoas, da liberdade, da diversão...
Mas algo que sempre me tocou, de uma forma diferente de tudo, foram as luzes. Ao anoitecer, todos os brinquedos contornados por luzes coloridas, e só.
O céu tão escuro, a noite fria, a vida se esgotando... E aquelas luzes piscantes, tão hipnotizantes que pareciam puxar meus olhos.
Hoje, quando voltava pra casa, passei por um lugar com alguma semelhança. Não era um parque. Não tinha roda-gigante contornada, nem carrinhos 'voando'... Mas era iluminado. Isso bastou para que eu tivesse a mesma sensação. Foi tão forte que segui aquele brilho com os olhos, cabeça, corpo, e alma. Principalmente alma. Até sumir dentro da noite escura, fria, vazia, e mortal.
Nesse instante, me senti tão só, que pus-me a chorar quieta, mas - eu juro ! - não sei se foi alegria ou tristeza.
Eu senti.


E eu, que quando criança, achava que a vida era pra sempre.



B.

novembro 03, 2010

Socorro !

Ela nos disse que não importava pra quem você escreveria. Que o importante era escrever.
Eu não entendia como ele conseguia se sentir melhor, depois de tudo, apenas com um papel. Talvez ele tivesse a certeza de que ela também sabia o que tinha acontecido, por isso se sentia aliviado.
Mas no meu caso, ninguém sabe.
Juro que estou disposta a ficar dias mais próxima de qualquer pessoa; eu preciso muito contar o que houve pra alguém... Mas não há ninguém.
Sempre preferi confiar segredos à desconhecidos. Afinal eles poderiam pensar o que quisessem de mim, julgar, ignorar, etc, e eu não me importaria. Afinal eram desconhecidos. Pessoa próximas à mim me machucariam mais; e eu, como toda pessoa egoísta, não queria isso.
Ainda penso, quero, e faço dessa forma. A única diferença, é que dessa vez, não apareceu ninguém pra eu poder contar uma palavra que fosse. Por isso vim escrever.
Quem sabe ela tinha razão... Quem sabe essa é a chave do alívio, do descanso, da cabeça fria e um pouco livre dos problemas.
Mas por enquanto, tudo o que faço é ler desesperadamente tudo o que aparece na minha frente, procurando respostas e distração. E chorar. Muito. Muito. Muito. Muito...
Estou a algumas horas chorando sem parar, querendo apenas alguém que me ouça e que me diga que tudo é uma mentira. Porque preciso que seja mentira.
Já tentei mentalizar que está tudo bem; que nada aconteceu; que preciso ficar calma. Consigo por três segundos... depois volto a chorar.

Talvez se eu contasse pra minha mãe... Ela não gostaria que eu escondesse dela.
Ou procurar a polícia... Ou um médico...
Ou você.



B.

outubro 17, 2010

Carta à Alex

Mairinque, Outubro 17, 2010.

Querido Alex,

Faz muito tempo que não te vejo, que não te observo, ou presto atenção nos seus detalhes. Sinto sua falta.
Você deve ter 18 anos agora, já é um homem.
Nesse tempo tenho me perguntado como você está - Se está em um presídio qualquer, ou está livre e feliz. Se está sozinho, ou com Mayce. - nesse caso prefiro que esteja só.
E Jared ? Tem saído com ele ? Você precisa me apresentar à ele. Conheci no ano passado um garoto muito parecido com Jared- longa história. De amor.
Por falar nisso, fiquei feliz quando soube que terminou com a Jhennifer. Saiba, querido, não está perdendo nada. Além do sexo de graça, é claro.

Sobre mim,
As coisas em casa estão uma droga. No colégio também. Meus amigos estão bem, estão felizes, assim como o namorado.
Mas eu quero que o tempo passe logo. Gostaria de avançar dois anos. E você conhece o porquê.

Enfim, continuo buscando notícias sobre você. Apesar de eu ter certeza que elas virão apenas quando você voltar.
Volta pra mim, Alex.

Eu te amo,



B.

outubro 13, 2010

Chave da vida

Quando eu era pequena, sempre me perguntavam o que eu queria ser quando crescer.
Eu respondia: "feliz".
Então eles me falavam: "Não, você não entendeu a pergunta !"
E eu dizia: "Não, vocês não entenderam a vida..."




B.

outubro 02, 2010

Carta à Vovó Sônia

Mairinque, Outubro 02, 2010.

Olá Vovó.
Não sei pra onde endereçar a carta. Não sei onde está, assim como também nunca soube quando a senhora estava viva. Pois é Vovó, gostaria que fossemos próximas, gostaria de conversar sobre as roupas que a senhora usava quando era jovem, elas de fato me interessariam.
Mas não vem ao caso os anos que perdemos de sermos amigas, ou simplesmente avó e neta.
Espero que tenha encontrado a tal paz que todos comentam. Mamãe me disse que você pagaria pelas coisas ruins que fez enquanto viva, mas eu espero que você tenha encontrado a paz.
Você deve nos ver daí, onde está, não é ? Vês os nossos problemas familiares que a cada dia pioram. Sinto vergonha disso, não contei pra ninguém sobre os acontecimentos recentes entre mamãe e sua filha (a Tia Fá), e nem sobre Papai.
Papai parece bem, talvez ele sinta sua falta. Mas perder uma mãe nem sempre é triste.

Ontem papai veio em casa, e me contou sobre suas coisas. Você também deve saber que, logo que faleceu, pedi que me dessem suas coisas. Sei que de todos os herdeiros, sou quem mais dará valor aos objetos em si, e não ao valor capital deles. Mas quem acreditou em mim ?
Eu queria suas roupas de época, suas jóias tão antigas, suas fotografias já desbotadas, e alguns objetos de decoração que comprara em suas mil viagens para o exterior. Mas não para vender, como a Tia Fá ou o Tio Guis. Eu queria pra mim. E não deixaram; não me deram um anelzinho sequer. Confesso que chorei.
Essas histórias de herança são sempre assim, todos vão encima do que sobra dos mortos, como urubu na carniça. Mas com seus interesses financeiros, claro. Eu não, juro que tenho carinho pelos seus pertences.
Ainda guardo aquela caixinha que me deu, dourada, com uma imagem de pavão, que trouxe de Paris. E também aquela de cobre no qual a tampa é uma jovem com um gato - não sei de onde trouxe essa. Mas são relíquias que não pretendo me desfazer.
Papai ontem me deu uma fotografia sua, de quando jovem. Deduzo que tinha uns vinte anos de idade. Vovó ! Como era linda ! Não sabia o quão bonita era... Sabe, você era parecida com a modelo Twiggy. Guardarei a fotografia.

Amanhã pedirei à papai que me leve aonde você morava. Ele limpou a casa. E parece que você deixou cerca de quinze gatos ! Ao certo, Tio Guis e papai os colocaram para fora. Triste.
Não tenho medo de ficar sozinha lá.
Acho que perdi o medo de espíritos. E da morte.

Será que você nos vê e nos ouve daí ?
Só espero que leia esta carta.


Com carinho, de sua neta,




B.

setembro 28, 2010

I'm not your baby, Fernando.

Era um festival de bandas underground, eu queria me jogar, como sempre quis. Como ainda faço, só as vezes. Eram duas ou três amigas, uma roupa ridícula, uma maquiagem pesada, e uma noite.
Eu me apoiei e sentei na divisa que dava pras mesas do camarote, e olhei pra trás, o vi, ele me chamou atenção.
Era uma calça justa, uma t-shirt do Placebo, rímel roxo no cabelo e maquiagem mais forte que a minha. Parecia familiar, ele chamava a atenção de todos. Cheguei a comentar com as amigas que o conhecia de vista. Mas na verdade era a primeira vez que nos cruzamos.
Tempo depois, encostou-se num pilar. Todos ao redor cheiravam álcool. Nos apresentamos. Falou seu nome dobrando a língua, Ferrrnando.
Eu não gostava de Avril, nem de Iron Maiden. Ele sentia-se excluído, me lembro das palavras:
- Eles me deixaram aqui, plantado.
Eu o senti, estranhamente. Era apenas uma atração estranha. Nada carnal. Eu o queria, ao meu lado, mais vezes, e naquele momento também.
Eu me excedi, tempo depois. Fiz mais do que podia, e isso talvez tenha o feito não gostar [mais] de mim. Mas pouco me importei. Eu só queria me jogar.

Todos bebiam. Ele saiu e comprou bananas e maçãs no supermercado. Eu me surpreendia ao passar da noite.

E tudo acaba, subimos a rampa nos despedindo. Ele entrou no carro, pegou o volante. Pegou os garotos.
Eu entrei no carro. A garota me pegou.
A noite acabou. Mas eu nunca esqueci seu nome, Fernando.



To be continued...




[texto escrito para Fernando Albertin]



B.

setembro 24, 2010

Próxima parada

O pior de ter que ir em pé em um ônibus pra mim, não é ter que ficar em pé, se equilibrar, ou aguentar estranhos se esfregando. É o fato de eu não poder ler meu livro.
Ainda bem que na maioria das vezes posso sentar, e fugir desse lugar sujo, em todos os aspectos. Ultimamente tenho me concentrado tanto na leitura, que mal percebo quando está na hora de descer.
Hoje não foi diferente. Pra mim a vida era um garoto que teve que velar o corpo de um cadáver leproso. E não as dezenas de pessoas feias que entravam e saltavam em seus respectivos pontos. Mas uma hora tive que interromper a minha vida literária, e voltar pra vida real.
Quando fechei meu livro, e o segurei em meu colo, a mulher que sentara ao meu lado, pregou seus olhos na capa e ficou observando por muito tempo. Ela corria os olhos pelo título e pela ilustração; ao certo não fazia ideia de quem era o autor, e nem reconhecia a obra clássica. Mas ela deve ter percebido o quão diferente eu era dos demais passageiros. Isso me fez sentir um pouco menos inútil que eles.
Deitei meus olhos sobre a estrada e esperei a hora de descer.
A chuva era grossa, e eu tinha quatro quarteirões à caminhar, até minha casa. Me irrito demasiadamente com chuva, principalmente quando não tenho como me proteger. Principalmente quando molham meus livros.
O dia com certeza seria ruim, mas pelo menos eu tinha me sentido mais inteligente do que outras pessoas hoje, não é. Isso me deixou bem.

E como a maioria dos meus textos. A conclusão é a incerteza.
Pelo menos eu tinha me sentido mais inteligente que outras pessoas hoje. Isso me deixou bem;
Ou talvez, o que me deixe mal é não ser tão ignorante como as pessoas que aparecem na minha frente. Talvez, o que me deixe mal é me sentir tão perdida meio à multidão.



B.

setembro 21, 2010

Ela mente

Algo que notei faz um tempo, é que ela sempre está sorrindo nas fotos. Sorri como se o mundo dela fosse realmente muito bom, como se nada estivesse morrendo ao seu redor. Ela é ótima nisso, essa farsa soa bela. Como consegue ?
Quer se mostrar tão satisfeita com todas as coisas, mas eu sei que não está. Sei que não tem brilho nenhum naquele olhar pessoalmente, sei de cada articulação que ela força para dar aqueles sorrisos. Farsa, farsa ! Ela mente.
Quer que todos pensem outra coisa, totalmente oposta à realidade.
Qual será a dificuldade dela em demonstrar o que sente, de verdade ? Por que não pode fotografar suas lágrimas, ou sua alma tão escurecida ? Tento descobrir o que a impede de se abrir, pensei na possibilidade de ela gostar da dificuldade, do desafio, ...
Há muita cor em suas fotos, mas não consigo encontra-las quando olho diretamente pra você. Nada é proibido aqui, querida.

E sabe o que mais me dói ?
Talvez ela seja mesmo muito feliz.
E eu não.



B.

setembro 19, 2010

JPeg

Nestes dias ela tem acordado em uma cama diferente. Com ou sem o barulho do lado de fora, ela precisa do despertador. 7h em ponto ele toca e ela abre os olhos. Vira pro lado e vê o céu azul ali tão perto - anda dormindo tarde, acha mais prudente deixar a janela aberta.
Sem pressa ela se levanta, vai ao banheiro e depois pra cozinha. Tira o leite (de soja) da geladeira, e coloca os pães na torradeira.
Ele acorda, coloca uma música. Em algum cômodo da casa a música começa a tocar. Enquanto vai rolando um ACDC, eles começam a falar sobre a escolha do look e as grandes tragédias do cotidiano. Não, nestes dias ela não está sozinha.
Depois de toda a correria, secador - chapinha - cremes - maquiagem eles se sentam pra tomar o café da manhã. Conversando ainda.
Agora sobre viagens. As que fizeram, as que não fizeram e as que pretendem fazer.
Acabam perdendo a hora.
Se acotovelam no espelho do banheiro enquanto escovam os dentes e dão uma ajeitada final nos cabelos.
Um batonzinho aqui, mais pomada alí. Ela vai estudar. Ele vai trabalhar.
Saem às pressas, colocando tudo dentro das respectivas bolsas. Caminham apressados até a esquina e se despedem, cada um seguindo pro seu destino.

Ela coloca seus óculos escuros e liga seu ipod.
Ele coloca seus óculos escuros e liga seu ipod.

Começam a cantarolar e a bater as pontas dos dedos nos quadris.
Atravessam a rua e vão, pensando sobre o quão pouco eles tem precisado para serem felizes.



B.

setembro 16, 2010

Eufemismo

Consegui sentar aqui. Finalmente poderei registrar esse tempo.
O tempo passa e engraxa a gastura do sapato. Na pressa a gente não nota que a lua muda de formato.
Há algumas horas, talvez 48, estou me sentindo muito bem. Me sinto feliz, leve, virgem.
Juro que não aconteceu nada grande ou importante para me causar esse bem estar, apenas pequenos insignificantes detalhes mexeram comigo - creio eu - como os meus lindos botões que finalmente pude comprar, a companhia de uma querida amiga, ou um novo livro para ler.
Hoje, por exemplo, assisti um episódio de um reality show, bem tosco e fraco, mas me fez flutuar de alegria, sonhar novamente, e me sentir capaz. Tão capaz que não quero desistir. É um reality show sobre moda, hihi.
Aliás, ouvi um garoto citar uma frase, algo como 'estou como as flores'. Poxa, nunca me atraí por flores. Mas com a forma como ele pronunciou cada sílaba pude perceber o quão rico e delicado é estar como flores.
Essa minha disposição de conversar bastante com alguém, ou sair apenas para caminhar têm sido raro ultimamente, já que estou afogada nos problemas... Entretanto, tenho recebido alguns elogios, e pessoas têm comentado sobre minha suposta naturalidade; gosto disso.
Espero que da próxima vez que eu escrever, ainda esteja me sentindo tão bem. E bonita.

Adoro me olhar no espelho com o cabelo molhado.



B.

setembro 13, 2010

O gosto da tinta

Eu tinha por volta dos onze anos de idade. Lembro que foi logo que comecei a estudar no período da manhã. Era exatamente o primeiro trabalho escolar em grupo que eu faria- e não fiz.
Me senti tão humilhada por não poder participar, e por me excluírem friamente. Eu tinha sido uma vagabunda e ainda queria 'justiça'; claro que estava errada ! Mas eu juro que tinha uma essência inocente. Eu jamais quis prejudicá-las, ou ser uma vagabunda.
Onze anos e queria morrer logo. Totalmente sem perspectiva, me achava um verme. Queria muito morrer logo.
Sabe, eu chorava às vezes e rezava o seguinte:
"Deus, então, se você existe, me mata logo. Porque se você não fizer isso, eu vou saber que você não existe".
Pois é, e Deus nem me matou, nada. Não me lembro se passei a não acreditar nele.
Ainda queria morrer. E talvez muitas outras garotas, ao meu redor, da minha idade, tinham esse mesmo desejo. Porque a vida delas também era uma merda. Só não sei se era tão fodida como a minha.
Não lembro o que houve depois disso. Acho que conheci umas outras pessoas e mudei um pouco.

A conclusão é que o vinho é o mesmo,
O gosto da tinta está ficando velho.



B.

setembro 08, 2010

You can't take this from me

Apesar de irônico, eu queria o sol.
Deitei na minha cama e lá fiquei, morrendo de frio, mesmo mergulhada sobre cobertores. Eu estava protegida pela minha literatura francesa e música norte-americana, cuja letra diz "Você não pode tirar isso de mim". E não posso mesmo.
Estava esperando por uma mulher de meia idade, com colete, e crachá. A famosa que vem pesquisar sobre nossas vidas, apesar de nos ver como números. Estava esperando pela funcionária do IBGE, que por sinal, não apareceu.
A mudança de faixa nos meus fones de ouvido me chama de volta pra mim, me trava a garganta e me arde os olhos. Meu primeiro impulso me diz pra conter o drama, segurar as pontas. E eu só quero chorar como uma criança, minha garganta inflamada já não aguenta mais engolir coisa que seja. Paro de lutar e deixo as lágrimas escorrerem a seu belo prazer. Veja só que bonito, eu ainda tenho sonhos.
Fecho os olhos, começo a mexer os lábios devagar conforme cada palavra da letra da música. Me sinto dentro dela, me sinto dentro de meus sonhos, continuo chorando.
E cantarolando a música com o rosto encharcado, adormeço.
Não sonhei com nada.
Abri os olhos. Abri os olhos três horas depois.
A música já acabou. Estou livre ?




B.

setembro 06, 2010

Eu me calei

Meu Deus, eu me calei.

Comecei a roer todas as rosas que ganhei; sofri com todos, me doei, recolhi as dores alheias, demonstrei.
Os segundos rolavam e cada pelo do meu corpo se arrepiava, me vi desesperada, me pus a gritar: Está doendo.
Sempre doeu, agora dói mais. Agora é mais intenso. Nunca faltou tanto como agora.
E se me perguntarem o significado das ondas frias que passaram sobre nós, eu não saberei explicar, me senti morta do início ao fim. E o fim se iniciou agora.
O fim não trouxe nada consigo. Eu queria sangue - o tempero. E me faltou.
Quando eu quis falar, me taparam a boca. E quando pude gritar, não foi o bastante, mesmo doendo tanto.
Então apaguemos a luz, quero que a treva nos envolva.




B.

setembro 04, 2010

Chick - Flicks

Chego em casa ensopa pela chuva. Vou tirando a roupa de qualquer jeito, jogando tudo pra todo lado. Sapatos, calça, blusa, jaqueta. Coloco um jazz qualquer pra tocar, desses que me fazem me sentir menos desolada nos dias chuvosos. Tomo um banho, passo meus mil cremes, emulsões, hidratantes.
Coloco o pijama, desligo a música e ligo o computador. Pego a caixinha de esmaltes e me demoro escolhendo uma cor. São poucas opções, vermelho-claro, vermelho-médio, vermelho-escuro, rosa-antigo, marrom-claro, marrom-médio, marrom-escuro, preto, azul petróleo, laranja, ...
O mundo se esvaindo em água do lado de fora e eu na frente do computador, fumando um cigarro enquanto espero o esmalte secar. Passei três camadas. Assim demora mais. Quantos cigarros ainda tenho ?
De que adianta ter todo o tempo do mundo se o maço de cigarros está no final ?
Abro a geladeira pra ver o que tem pra comer. Um resto de comida de dois dias atrás em potinhos coloridos. Algumas maçãs. Iogurtes nenhum pouco naturais. Prefiro acender outro cigarro e voltar pro PC.

E quem é que não se inquieta ao imaginar a possibilidade de ter sua felicidade garantida pro resto da vida?


Desligo o computador, já entendiada com a mesmice, e ligo o som outra vez. Dessa vez uma música animada. Me levanto e começo a dançar, feliz, despreocupada com a minha solidão.
Acho que tenho que arrumar um outro namorado. Ou namorada.

Certezas são cheques sem fundo.



B.

setembro 03, 2010

Milagre / Miséria


Brï e Maria Fernanda
Cena do musical Homens Brechtinianos - 2009



Esses dias caminhei sobre aquela calçada nostalgica, e percebi alguém sentado na porta de sua casa. Pensar que eu sentava no chão com aqueles olhos verdes. O cabelo ainda preto com franja sobre os olhos verdes, a pele tão branca, e a sequência de sardas na maçã do rosto. Fitou-me até esclarecer um falso sorriso, um oi desdobrado por obrigação. Segui adiante, lembrando daqueles olhos verdes, e pensando que eu tinha que escrever sobre isso.
Escrevo, tão sufocada. Como pode, meu Deus, eu ter essa impressão de que a vida passa como um filme na minha frente.
Isso, rapidamente me lembrou de uma música que interpretávamos no musical Homens Brechtinianos. E me deu muita vontade de escutá-la, e colocar aqui sua letra.

Fica aqui a incrível música Milgre/Miséria. De Adriana Calcanhoto.


Nossas armas estão na rua
É um milagre
Elas não matam ninguém
A fome está em toda parte
Mas a gente come
Levando a vida na arte
Miséria é miséria em qualquer canto
Riquezas são diferentes
Índio mulato preto branco
Miséria é miséria em qualquer canto
Todos sabem usar os dentes
Riquezas são diferentes
Ninguém sabe falar esperanto
Miséria é miséria em qualquer canto
Riquezas são diferentes
Miséria é miséria em qualquer canto
A morte não causa mais espanto
O sol não causa mais espanto
Miséria é miséria em qualquer canto
Riquezas são diferentes
Cores raças castas crenças
Riquezas são diferenças
As crianças brincam
Com a violência
Nesse cinema sem tela
Que passa na cidade
Que tempo mais vagabundo é esse
Que escolheram pra gente viver ?




B.

agosto 28, 2010

À minha amada

Você veio do céu ou de um simples precipício ?
Beleza ? Seu olhar é divino mas daninho. Dá pra confundir o bem e o melefício. Eu te comparo ao vinho.
Nos seus olhos, vi o reflexo da luz diurna. Lança-perfume em uma noite tempestuosa. O seu beijo foi um filtro, sua boca uma urna. Você me tornou em um herói covarde, e em uma criança corajosa.
Se veio lá do céu ou do inferno, o que importa ?
Beleza ? Você é um monstro ingênuo, gigantesco, e horrível. Seus olhos, seu sorriso, seus pés abrem a porta do infinito.
Do Diabo ou de Deus, o que importa ? Anjo ou Sereia, o que importa ?
Você consegue ser uma mulher suave, rainha, perfume, ritmo... Faz o universo mais humano, faz as horas menos graves.



B.

agosto 27, 2010

Abóbada noturna

Eu te amo como se ama a abóbada noturna,
Ó taça de tristeza, ó grande taciturna
E mais ainda te adoro quanto mais te ausentas
E quanto mais pareces, no ermo que ornamentas,
Multiplicar irônica as celestes léguas
Que me separam das imensidões sem tréguas.

Ao assalto me lanço e agito-me na liça,
Como um coro de vermes junto a uma carniça,
E adoro, ó fera desumana e pertinaz,
Até essa algidez que mais bela te faz !

Porias o universo inteiro em teu bordel,
Mulher impura ! O tédio é que te torna cruel.
Para teus dentes neste jogo exercitar,
A cada dia um coração tens que sangrar.
Teus olhos, cuja luz recorda a dos lampejos
E dos rútilos teixos que ardem nos festejos,
Exibem arrogantes uma vã nobreza,
Sem conhecer jamais a lei de sua beleza.

Ó monstro cego e surdo, em cruezas fecundo !
Salutar instrumento, vampiro do mundo,
Como não te envergonhas ou não vês sequer
Murchar no espelho teu fascínio de mulher ?
A grandeza do mal de que crês saber tanto
Não te obriga jamais a vacilar de espanto
Quando a mãe natureza, em desígnios velados,
Recorre a ti, mulher, ó deusa dos pecados
- A ti, vil animal -, para um gênio forjar ?

Ó lodosa grandeza ! Ó desonra exemplar !

Eu te amo como se ama a abóbada noturna.




B.

agosto 22, 2010

Inveja

Pensei de verdade que nunca escreveria sobre isso. Mas hoje não aguentei.
Fui puxada por um anzol, e você insiste em aparecer na minha frente.
Na verdade não. Eu tenho te seguido pra saber aonde você vai e o que fazes. Tenho prestado atenção nas pessoas que você conversa e o que diz para cada uma delas. E sempre sei quando você está aqui. Tenho guardado os detalhes das suas poses, e decorei cada palavra que você gosta de usar.
Detesto os tecidos, os sorrisos, as fotos, os passos, e as músicas que você não guarda, apenas mostra. Detesto todos que te procuram, inclusive eu, e todos te te admiram. Admiram os malditos tecidos e sorrisos e fotos e doenças.
Confesso que meus dedos são atraídos pra perto de você, mesmo quando não está exatamente aqui. Que adoraria realizar sozinha pelo menos uma das coisas que você faz. Porém, me divirto quando debocho de você, porque me faz bem ter a certeza de que sou melhor, mesmo que esse melhor demonstre uma insegurança, e até exagero.
Toda vez que te procuro, quase como as outras pessoas, me arrependo. Não gosto do que sinto, desse ódio que têm me corroído e levado meus pensamentos para um poço.

Quem é você que pela primeira vez, me despertou algo que diagnosticaram como inveja ?

Você não merece que eu escreva,
Eu odeio você.




B.

agosto 21, 2010

Where's the sun ?


E me perguntei a segundos atrás,
Onde está o sol ? Será que ele brilha em algum lugar do mundo, nesse instante ?
Eu acho que não. Nunca pra mim



B.

agosto 17, 2010

V de Vegan

Naquela época ela olhava pro espelho, e confirmava que era doente.
Seu coração batia por um garoto chamado Vegan; Vegan deu às costas à ela várias vezes, mas uma, em especial, a machucou muito.
Ela o achava diferente, dava à ele uma importância incomum, chegava a ficar horas acordada de madrugada para poder dar um 'boa noite' que fosse à ele. Se falavam toda madrugada, faziam um bonito casal, e tinham uma intimidade avançada- tanto pela idade dela, quanto pelo pouco tempo de relacionamento. Ele era cinco anos mais velho que ela, mas na maioria das vezes, não parecia.
Vegan mentia. Mentia e flertava com outras garotas na frente dela. Porém, ela não podia falar absolutamente nada, pois ela era a outra.
Um dia, Vegan sumiu. Ela ficou preocupada, não sabia onde procurá-lo. Ele nunca mais entrou na internet, um celular que nunca atendia, nenhum e-mail respondido, nenhuma notícia. Nem mesmo os amigos sabiam dele. Passou pela cabeça dela procurar sua mãe e perguntar o que estava acontecendo, mas faltou-lhe coragem.
Muitos meses depois, um amigo a avisou que Vegan tinha viajado para servir ao exército, e que estava bem. "Muitos meses depois" - isso significava mudanças dentro, fora, e ao redor dela... Algo a aliviou, como se sempre tivesse a certeza de que ele não havia a deixado, e que ele reapareceria um dia. Porém a raiva foi maior quando percebeu de que, sim ! ele havia a deixado, e sem explicações, sem uma ligação sequer, sem um código sequer, sem nada, sem pistas. Decidiu que estava na hora de esquecê-lo. E o fez (ou pensou que o fizera).
Mais meses passaram, e ele retornou. Retornou primeiro aos amigos, às garotas, e depois à ela. Seu coração pulava quando o viu na sua frente, depois de um ano. E então, uma longa conversa a machucou ainda mais.

- Eu gostava de você.
- Eu gostava de você.

Acabou o que já havia acabado. O tempo curou os dois da raiva, arrependimento, e fez com que se tornassem colegas. Como um renascimento, eles passaram a conversar sobre seus dias, seus próximos amores, e também relembrar algumas coisas do passado. O tempo também cuidou de esfriar a mente (e o corpo) de Vegan. E assim, nada acabou.



Um dia, perguntei à Vegan o porquê de ele não ser fiel para comigo.
E ele respondeu:
- Porque você é doente, Brï.




B.

agosto 11, 2010

Emdependência

...Mas você se esforçou tremendamente para me trancar do lado de fora da sua vida.
As pessoas são persistentes quando se trata de garantir sua independência imaginária. Elas acumulam e guardam a doença como se fosse um bem precioso. Encontram sua identidade e seu valor na mutilação e os guardam com cada grama de força que possuem. Não é de se espantar que a graça seja tão pouco atraente.
Há muitas pessoas como você, que terminam se trancando num lugar muito pequeno com umm monstro que acabará traindo-as, que não as preencherá nem lhes dará o que elas imaginavam.



B.

agosto 10, 2010

Perim.

- "Faz uma hora que estou nessa fila". Pensei.
Esperava pela comida, com óculos escuros escondendo as olheiras de quem acordou e já saiu de casa.
Eu prestava atenção na prateleira de sucos, tentando escolher qual eu levaria junto à comida. Percebi uma moça com seu namorado; ela me chamou atenção pela sua camiseta; azul marinho, enorme, jogada de qualquer jeito em seu corpo, e estampada com uma imagem semelhante à capa do álbum Hypnotize- System of a down. Tinha longos cabelos encaracolados em degradé, que se espalham por seu ombro e seios.
Quando meus olhos subiram até seu rosto, ela olhou para uma mulher na minha direção, sorriu, apontou, e foi abraçá-la. Então eu a reconheci. Tratava-se da Perim, minha melhor amiga quando eu estava na pré-escola. Óh Deus, como ela está diferente. Porém, algo em seu rosto a denunciou, talvez os olhos sorrindo junto aos lábios, talvez o sorriso, talvez o rosto pequeno arredondado. Após abraçar a mulher, apresentou a ela seu namorado, e acabou olhando para mim. Durou segundos, ela ficou séria como se também me reconhecesse, mas logo voltou sua atenção para a conversa. Então se despediu da mulher, arrumou a bolsa transpassada pelo corpo, abraçou seu namorado e foi embora.
Eu, muito mau humorada, nem tentei arriscar um sorriso. Mas fiquei pensando nisso pelo resto do dia. Esses meus antigos colegas, pra mim, continuavam a mesma coisa que eram na época. Assim como, pra mim, não mudei nada. Erámos crianças com corte de cabelo semelhante, uniforme da escola, e gostos iguais. Hoje parecemos adultos, e busca de mais desejos e de caminhos para alcançarmos nossos objetivos- no qual apareceram por esses nove anos.

É intrigante como depois de nove anos, conseguimos reconhecer pessoas.



B.

agosto 06, 2010

Rèforme

Logo que desliguei o despertador, me perguntei aonde estava a dor de cabeça da noite passada; a procurei nos meus olhos, na minha nuca, nos ossos temporais, e até na mandíbula. Felizmente, ela desistiu de mim por um dia.
Fiz tudo tão correndo que nem me lembrei que dia era hoje. Não é um dia importante, mas eu tinha que falar meia dúzia de frases verdadeiras, que, além de convencer as pessoas, teriam que fazê-las entenderem. Não havia nada mastigado, foi terrível, passei muita vergonha; mas ao fim consegui algo especial: Muito Bom !
Estou conseguindo comprimentar e sorrir pra algumas pessoas, estou me sentindo bem, estou ... limpa. Até sorri quando olhei pro espelho e vi meus olhos tão transparentes.
O tempo passou rápido, e o sol me deixou mais confortável quando cheguei em casa. O frio é desinteressante, e me faz muito mal. Também preciso voltar a comer, quero meus hábitos saudáveis de volta.
Há duas semanas tomo suco de laranja sem parar. Ao final do dia, a pia da cozinha coleciona copos sujos. Fiz as contas e estou tomando um litro de suco de laranja em dois dias. Isso não faz bem, mas me faz feliz. Um pouco que seja.
Quando anoitecer, quero ler meu livro e dormir cedo. Amanhã tenho que lavar minhas paixões.

Estou bem.



B.

julho 30, 2010

Segunda - feira

O barulho do microondas anuncia o começo do dia. É o início da semana e as pessoas seguirão resignadas pegando ônibus ora cheios, ora vazios.
No meu caso, até chegar ao colégio meu estômago permanece embrulhado; o cheio de ônibus, de pessoas, de humanidade me enche de náuseas. Tudo o queria, era poder ficar na minha casa sozinha. Ter que acordar me incomoda, assim como ter que dormir.
No colégio, vejo algumas pessoas sentadas em seus computadores, alguns novos, alguns velhos, alguns brancos, alguns pretos; digitando meia dúzia de bobagens por minuto. Alguns fingindo dedicação e afinco às suas tarefas, enquanto passeiam discretamente por sites que vão de pornografia à receitas de simpatia pra arrumar um homem. Outras preferem saber como anda a vida das celebridades e quem é o assassino da novela. Ainda há quem goste de ler sobre as tragédias do mundo, desabamentos, tornados, tempestades, afogamentos e incêndios. Nada de novo acontece, de fato.
Vejo pessoas conversando alto, achando que a vida é foda. De fato é foda. De ruim.
E a ânsia volta quando algum professor entra na sala. Cada palavra é como um soco na minha barriga, o que eu comi começa a subir, sinto passar pela minha garganta.
Finalmente tudo acaba, e eu corro pra qualquer ponto de ônibus, pra sentir um maldito sol no corpo e novamente cheiro de gente.
Toda segunda-feira (e terça, e quarta, e quinta, e sexta) penso mil vezes antes de decidir levantar da cama. Se eu pudesse, não acordaria nunca mais.




B.

julho 29, 2010

Greve

Eu não queria morrer assim, de um jeito bagunçado e pouco bonito. Apesar de que, claro, não queria continuar vivendo.
Também não queria morrer para sempre. Podia ser só uns meses, como uma greve pra vida: " Querido deus, estamos aqui fazendo um motim contra a existência, porque tá foda. O sindicato pede apenas um aumento de boas notícias no contra-cheque da vida".
Eu quero aprender com a alegria, agora. Não há mais nada que a tristeza possa me ensinar. Não é mais produtivo, inspirador; perdeu a graça.
Como dizia Fátima Guedes 'Infelicidade cansa'
Dá um desespero tão grande, tão grande.

Minha mente mimada sempre acha que eu mereço uma recompensa pelas coisas que passei e pelo comportamento exemplar que tive depois delas. Tá, tive um péssimo comportamento, e na verdade, nem merecia nada. Eu fico achando que Deus devia mandar finalmente uma recompensa por isso tudo: e pelo fato de eu continuar lutando. Mas cara, cadê ? É sério que a vida inteira vai ser essa sucessão de fracasso ?
Então eu tenho o direito de me recusar, né ? Porque puta que pariu.

Eu queria morrer devagar e bonito, tipo gelo derretendo. Mas fico aqui olhando pra essa janela e pensando:
- É capaz que eu não consiga me matar; nada que eu quero dá certo, anyway.



B.

julho 28, 2010

O Anônimo

Obedeça (a mim)
Acredite (em mim)
Só confie (em mim)
Venere (a mim)
Viva (pra mim).

Seja grata (agora)
Seja honesta (agora)
Seja preciosa (agora)
Seja minha.

(apenas ME ame)

Possessão (alimente meu único vício)
Confissão (eu não vou dizer duas vezes)
Decida (até morra por mim)
Ou desista (de toda chance que você tem de ser livre).


[T
he nameless - S.]
B.

julho 25, 2010

Seus desenhos

Naquele momento, o relógio marcava 23h, e ela esperava para fazer uma ligação.
A madrugada passada tinha sido muito solitária, o dia amanhecera péssimo, ficou trancada em sua casa pensando besteira. Achava que até mesmo o pano de chão sofria menos tédio que ela.
Dias chuvosos sempre atrapalhavam de alguma forma. A chuva tinha tudo para ser bela, mas insistia em ser sua inimiga. O que seriam dos dias sem chuva ? Dias bons - pensava consigo.
Quando o relógio marcava 00h, no passado, era hora de botar suas ideias no papel. Ela desenhava. Detestava seus desenhos, mas era tão confortável sentir o coração na boca (exposto ao mundo sujo em que vivia) enquanto o fazia; sentir o pulsar sobre sua língua... Só que as coisas tinham mudado durante os meses: tinha muitas ideias mas faltava inspiração. E também mãos. Há algum tempo havia perdido suas mãos para outros afazeres, e desenhar - imaginava ela - seria muito complicado.
Julgava-se fracassada. Era uma das únicas coisas em sua vida que ela entendia e TALVEZ fosse talentosa, (não era inteligente; não era bonita; não escrevia bem pois não sabia escolher palavras; não tinha dinheiro sobrando; e não era alguém agradável.) e justo nisso, ela falhava. Falhar talvez nem seja a palavra certa, pois ela amaldiçoava tudo ao redor antes mesmo de tentar encaixar o lápis nos dedos e riscar o papel.
Conforme os dias passavam, era uma folha a menos no calendário, e ela não tinha feito nada; nenhuma tentativa. O tempo estava acabando.
Sua decisão foi a pior possível: esperar. Espera pela inspiração, esperar a chuva passar, esperar mais folhas de calendário serem descartadas, esperar por um dia inútil pra ela jogar fora. Faltava-lhe, visivelmente, atitude. E ela parecia estar ciente disso. Ela precisava de ajuda.
Mas não agora, pois chegou a hora de ela fazer a ligação. Afinal, esperava por isso também.




B.

julho 24, 2010

Random

- E aí...

- Eái.

- Você escreve bastante, né ?

- É. Bastante...

- O que você escreve?
Jornalismo, ficção, poesia ? Ahhh! Algo sobre moda, não é ?

- Normalmente as coisas estúpidas sobre a vida.
Nada profundo, eu quero dizer. Coisas aleatórias. Bem random...
Como observações gerais.

- Random é bom.
Eu gosto de coisas aleatórias.

- Sim, estamos em aleatório agora.

- Nós com certeza estamos !



B.

julho 22, 2010

Protegida

A senha do cartão do banco estava errada.
11 horas da manhã, a vontade de sair dalí e procurar um lugar seguro para se esconder do resto das pessoas. Esperou do lado de fora por quase uma hora, os carros passavam velozes, mas tinha a impressão de que todos os motoristas olhavam para ela- não por ela chamar a atenção, mas porque era o único ser vivo naquela calçada.
Chegou um grande automóvel com um casal e uma criança: um lindo garoto com olhos verdes e sardas no rosto. Os viu entrar no banco e ficou observando aquela atividade tão rotineira; parecia um casal feliz. Ou não. Pelo menos o garotinho era bonito.
Percebeu seu reflexo na porta de vidro, o que a fez desviar o olhar por instantes. Sentiu-se estranha, seu corpo estava diferente. Por muito tempo não se olhava de corpo inteiro frente à um espelho. De fato, portas de banco não são espelho, o que a fez pensar 'é impossível eu estar gorda'. Ficou muito tempo observando sua roupa, parecia uma boneca.
O casal saiu do estabelecimento, e seu coração pulou. Eles não podiam ir embora, pois ela se sentia protegida com eles alí; então resolveu se afastar, atravessou a rua (e somente isso). Ficou parada, do outro lado da calçada, onde ainda dava pra ver seu reflexo na porta. O casal se foi.
Escondeu-se entre os veículos estacionados, estava segura (mas não por muito tempo...). Ela não desconfiava do que estava por vir...




B.

julho 21, 2010

Spotless mind


Depois de uma bela cena do filme, virou-se afim de passar uma mensagem de 'eu me lembro' para ela. Ela estava emocionada, rosto brilhando pelas lágrimas que escorreram. De fato a cena do filme era triste, uma despedida, mas só as mais sensíveis pessoas a sentiriam para se emocionarem.
Ao ver essa imagem, sentiu algo estranho, que o levou a presenteá-la com um longo beijo. Nesse momento, o filme foi pausado e ele iniciou a conversa.

- Nunca quis ninguém como te quero.
- Eu também.
- Mas eu tenho tanto medo...
- De quê ?
- Eu tento viver o 'hoje', mas não consigo...
- Do que você tá falando ?
- ... Minha vida nunca foi muito boa, e o que têm acontecido pra mim, são coisas que eu nunca quis viver, pois pra mim, não é real.
Pôs-se a chorar. Não queria demonstrar aquela emoção, não queria parecer fraco nem covarde diante dela. Mas a dor foi tanta que soluçava a cada segundo.
De fato a vida fora severa com ele. Já havia passado por diversas situações ruins, que o derrubara. Mas também havia vivido ótimos momentos, conhecia a felicidade. Mas para o que ele sentia por ela, momentos não era o suficiente.
- É real ! É de verdade ! Confia na gente. Fica comigo.


Confiança; como confiar em duas pessoas, simultaneamente, sendo uma delas um 'eu', e a outra um 'você' ?
Que tipo de confiança deveria ser aplicada pra esse caso ? de que forma ele iria sentir-se mais seguro ?
O tempo era um bom amigo dos dois. Demorava muito para passar quando estavam juntos. Porém demorava ainda mais quando estavam longe.
Eles confundiam botar mais fé no futuro, ou aproveitar o presente. O hoje pra ele era bom, o amanhã era, vezes melhor ainda, vezes assustador - havia uma estranha neblina naquela ponte que eles caminhavam, não dava pra saber o que viria depois do hoje.
A vida não podia ser tão injusta. Ou podia.
Deram continuidade ao filme. E não apagaram aquela conversa da memória.



Enfim, não me apague da sua memória.




B.

julho 15, 2010

Tanto que aprendi de amor

Tanto que aprendi de amor na vida
E agora descobri
Que não sei nada mais
Força eu fiz pra ter só boa companhia
Hoje eu gosto demais
Sabe, até falta ele me faz
Sabe, eu tentei não compreender
E dei pra relembrar as coisas más
Pra esquecer

Tanto que aprendi de amor
Tanto, e daí ?
Na hora de fugir não me senti capaz
Quero o que me sobra dele em mim
A boa companhia
A vida que ele traz
Força eu fiz... mas já não faço mais
Sei onde me leva essa ilusão
Mas não amar também me tira a paz
E a emoção.





B.

julho 12, 2010

A faca e a caneta.

Sobre isso aqui...
Eu não sou obrigada a nada. Não sou obrigada a escrever nisso, a ter sempre bons textos, a contar sobre meu dia. Não é de hoje que escrevo, que descanso meu coração com poesias, músicas, textos, diários.
Isso é apenas uma exposição e um arquivo.
Não me perguntem pra quem escrevo, nem o significado de certas coisas antes de terem algum palpite. Vocês precisam saber que sou alguém de entrelinhas. Ninguém é obrigado a ler, no entanto me surpreendo com a quantidade de pessoas que vêm me questionar sobre minhas dores.
Escrevo porque me vejo diante de uma faca e uma caneta, e tudo o que sempre tive foi um papel. Chega a noite, o sol vai embora, tudo se apaga de forma que eu só consiga enxergar minha mente. Vejo milhares de palavras, imagens, sons, frases embaralhadas... meus pensamentos se confundem, eles passam como se estivessem indo para algum lugar às pressas (eu não sei para ondem vão). Então eu tento organizar tudo para tirar uma conclusão. E a conclusão é o que eu escrevo aqui.
Diante da faca e da caneta, sinto uma forte dor também conhecida como interrogação, me vejo diante de uma escolha difícil, porque é a faca que me atrai [Faca: o Arlequim]. Mas a caneta é o objeto que eu mais segurei enquanto a outra mão se esfregava nos olhos, desembaçando-os pelo choro, caneta me faz continuar. Eu sempre quis continuar [Caneta: o Pierrot].
E vocês continuarão lendo (ou apenas passando os olhos nas minhas linhas) enquanto minha escolha for a caneta. Nunca tirem o papel de mim.
Por favor, não me perguntem o que vai acontecer se um dia eu optar pela faca ! (não sem antes terem um palpite).


Escrevo enquanto o vapor do chá embaça meus óculos.




B.

Roleta Russa

Respire, profundamente
Acalme-se
, ele me diz
Se você jogar, você joga para ficar
Pegue uma arma, e conte até três

Eu estou suando agora, me movendo lentamente
Sem tempo para pensar, a minha vez de ir

E você pode ver meu coração batendo
Você pode vê-lo através do meu peito
Estou apavorada, mas eu não vou desistir
Eu sei que tenho que passar neste teste
Então, basta puxar o gatilho

Faça uma oração para si mesmo
Ele diz para fechar os olhos
Às vezes ajuda
E então eu tenho um pensamento assustador
Que se ele está aqui, significa que ele nunca perdeu

Enquanto a minha vida passa diante dos meus olhos
Me pergunto, verei outro nascer do sol?
Muitos não têm a chance de dizer adeus
Mas é tarde demais pra pensar no valor da minha vida

Então, basta puxar o gatilho.



[Russian Roulette - R.]
B.

julho 10, 2010

O obrigado.

Eu não sabia quem era ele, nem imaginava sua graça, muito menos onde ele dormia. Sabia que ele escrevia há anos, que era triste, que não tinha vontade de nada, que era problemático, que mal tinha amigos, que devia usar algum tipo de droga (ou não), que ouvia música boa, que vestia calças justas. E que era gay. Mas na verdade, eu não tinha tanta certeza disso, como tinha de outra coisa, que pra mim, era o que mais importava: Ele não só queria, como precisava ser feliz.
E quando percebi isso, senti uma vontade imensa de tentar. Tentar o que ? Tentar fazê-lo feliz ? Euuu ? Soaria ironia. Não. Eu me sentia incapaz. Ora porque eu não era tão feliz assim. Ora porque talvez ele me achasse muito idiota se eu o revelasse.
Ele não sabia quem eu era. Demorou um mês, mais ou menos, para eu falar com ele. E, na verdade, eu nem falei nada, só apareci em sua frente. Então, ele descobriu que eu existia e me disse algo... algumas poucas palavras.
Só que ele me disse, simplesmente, a melhor palavra que ele poderia dizer. Essa mesma palavra que hoje, depois de tantos meses, ele repete (com outros sentidos).
Ele me disse Obrigado.
Ele me agradeceu pela fina chuva que fazia naquele dia. Mas não importa o porquê, nem pra quê, nem nada. Esse foi o começo, um agradecimento.
Eu estava viva. Ele também. Então, eu esqueci se era feliz ou não; capaz ou não; e resolvi tentar.
É. Eu tentei.



B.

julho 07, 2010

Arraste-se.


Aquele dia estava sendo muito ruim, não tanto como o anterior, mas ainda assim, muito ruim. Eu tinha rolado pela cama a noite toda, pensando no que eu deveria fazer quando te visse. Tinha certeza de que conseguiríamos conversar, lavar as roupas tão sujas, e quem sabe, ficarmos bem. A verdade é que eu estava morrendo de vontade de falar com você.

Eu me sentia abandonada, sozinha numa estrada que nunca tinha passado antes. Você era quem eu procurava imediatamente quando me decepcionavam, quando me sentia triste, ou extremamente feliz. Com você eu não me sentia sozinha. E dessa vez, era sem [justamente] você que eu estava. Seria justo conversar sobre nossa situação sobre você mesma ? Chegar e desabafar pra você minhas mágoas sobre você ? Pedir conselhos sobre você e eu para você ? Não achava uma solução.
Não tinha pra onde correr. Apenas duas ou três pessoas estavam sabendo o que estava acontecendo, e estas não haviam gostado da minha reação. Tentei conversar sobre o que eu sentia com duas pessoas que confio (especificamente, uma amiga, e meu namorado), mas eu não podia dizer exatamente a causa da minha angústia, porque pra vocês duas ainda era um segredo; então tentava descrever minha dor sem ser explícita.

Chegou o dia.
Eu estava sentada em uma cadeira, no palco. Abri um livro, eu o folheava quando você se aproximou.
Trocamos palavras, nós sorríamos- mas não de alegria, era aquele sorriso de 'sinto muito'.
Meu coração apertava, estava rasgando meu peito, não aguentava mais segurar... e então, comecei a chorar. Foram lágrimas tão sinceras, tão doloridas, que você encostou minha cabeça em seu ombro tentando um abraço. O abraço: ele poderia significar uma cicatriz pra toda aquela ferida, ou um reenlace, ou a costura de uma roupa rasgada. Mas ele foi desolado, e quando te abracei, era como se estivesse caindo naquele chão sujo.
Você pediu pra eu não chorar; abaixei a cabeça deixando meu cabelo esconder os olhos, desviei meus olhos para meu livro, fingia prestar atenção nele, até que uma lágrima escorreu, pingando na página, o que denunciou que meu choro era intenso.
Você se levantou, se afastou, foi para perto das nossas amigas, e me deixou alí, de cabeça abaixada, desaguando.
Nesse momento eu senti vergonha de mim. Eu tinha uma peça para ensaiar, uma personalidade fria para fingir, e tudo o que queria, era ir pra casa. Eu me senti fraca demais, porém algo havia ficado destacado naquela cena: Eu ainda te amava muito. E ainda estava muito magoada.

"[...] Desculpa se fugi dos seus olhos naquela tarde, mas eles derramavam lágrimas e eu não podia derramá-las também, seria uma fraqueza que não podia demonstrar. "

Você registrou uma justificativa, e eu a li.




[Texto escrito para Bea Marques.]




B.

julho 05, 2010

A caixa.

O que eu queria era ter inspiração para escrever um texto que você leria de verdade. Que você não apenas passasse os olhos pelas minhas linhas.
Eu queria te dar um livro também, e dentro dele ter uma carta minha, você podendo assim usá-la como marcador de páginas.
E eu queria também abrir aquela caixa. Na caixa tem estilo, música, e sexo. Tem alguns vinis do Sex Pistols, uma cama, uma barra de chocolate branco, e meias-calça.
Façamos assim: enquanto tento abri-la, você coloca uma de suas mãos sobre a minha. E com a outra, segure um espelho para eu poder conhecer também meu olhar de desejo.
Eu queria que meu violão empoeirado, largado no canto, fosse seu também.
Não sei qual é o meu problema, eu gosto de quando o dia amanhece e você permanece falando. Gosto da minha voz se alterando de agudo-doce pra grave-cansado. Gosto dos meus olhos fechados imaginando coisas (creio que sua imaginação seja ainda melhor que a minha). Gosto de risos desnecessários. Gosto que me faça perguntas. Gosto de responder perguntas. Gosto de te fazer perguntas. Gosto de suas respostas. Gosto de quando perguntamos um ao outro se temos perguntas.
Enfim, gosto de você.


Um sentimento ?
Amor. Amor próprio.
Um desejo ?
A caixa.



B.

julho 02, 2010

Só de passagem ?

Violenta, grossa, revoltada.
Um muleque num rosto de menina delicada e vestidos floridos.
Quem nunca quis conhecer o amor, um namoro fake. E amizade significava cumplicidade. E nada mais.
Eu sei. Todos duvidavam de sua sexualidade. E você também duvida que sou fiel.
Fidelidade ? Não mesmo, não do seu ponto de vista. Baladas lotadas, shows punks, brigas, mil garotos, mil garotas, beijos, sexo, madrugada. Não conhecer ninguém, não me conhecer.
Meus poemas lésbicos nunca te agradaram.
Sem paciência. Alguma menina idiota dizendo que não conheço a trajetória, se achando melhor e mais experiente.
Meus amigos. A maioria problemáticos, punks, drogados, braços manchados pelas seringas, olhos escuros, lábios pálidos, marcas de bala na perna, pais presos, filhos com garotas de onze anos.
Realidade. Cuspa no chão. Um vocabulário com palavrões.
Sujeira, tente outra vez.
Seja obediente, quem sempre ditou as regras fomos nós.
Vida por vida, nem faça.


Viemos para causar.
E se fosse pra eu estar aqui só de passagem, nem viria.




B.

junho 29, 2010

Despertando Medusa.

É cedo para eu estar escrevendo. Mas me vi diante de uma grande dor no peito, e pensamentos pendurados nela.
Acordei muito bem, tive agradáveis sonhos, e ontem foi um dia muito bom- a manhã, a tarde, a noite com ele.
Não sei quanto tempo nóis dois perdemos sendo interrompidos por aquilo que insiste em me ofender; ou por caminharmos sozinhos (e ele andou muito !), mas como ele sabe, tudo vale a pena, sempre. E também acho isso incrível.
Não tenho mais medo, nem insegurança. Estou consciente, e eu consegui me segurar, graças às nossas [nem-tão-boas] conversas.

Porém hoje, quando entrei no twitter, vi um link de um endereço que detesto me lembrar que existe: o endereço da sua alma.
Simplesmente, não consigo esquecer que fiz parte desse seu diário, e o que escrevia sobre mim era tão forte, que fazia eu pensar sobre por dias inteiros. Eu, com dor no peito, cliquei sobre o link, talvez para matar saudade. Ou me machucar um pouco lembrando de você.
Ainda bem que minhas visitas à sua alma nunca tocaram seu coração.
Pois bem, passei muito tempo entre os arquivos, eram mais quinhentos textos, e apenas dois ou três citavam meu nome: Medusa.
Como me senti triste. Eu caí ao reler tudo aquilo. Não sinto sua falta, nenhum pouco, pois você me decepcionou, mudou muito, e hoje eu conservo um desprezo por ti, e essas lembranças. Mas senti falta da Medusa que eu era antes.
Medusa nunca morreu, mas ela mudou muito também ! Naquela época, querido, ela se odiava por se amar tanto daquele jeito. Esse amor próprio, vinha do ódio de si mesma que ela tanto admirava. Bem contraditório e confuso, a minha cara.
Eu ainda não sei a cor dos meus olhos, eu ainda não sou bonita, eu ainda mantenho meus cabelos de cobra, e meus lábios escuros como musgo. Mas a felicidade que encontrei pelo caminho [depois que você se foi] fez meu olhar perder a força. Hoje olho com carinho, afeto, admiração, amor para muitas pessoas; porém, por mais que digam que isso é forte, não é marcante como antes. Pra você ver como é grave, eu nunca mais petrifiquei ninguém.
Meu olhar foi o que mais te chamou a atenção. Você me disse que ele te dizia coisas que minha boca jamaiz diria. Que ele te esfaqueava tão fácil como faca na manteiga.
Realmente, era algo que todos já tinham comentado entre si, e comigo também. Eu cheguei a escrever poesias sobre isso. Mas hoje pensei: - Fui eu mesma quem decepou a cabeça de Medusa ? Ou talvez, você era Perseu, e não Fuhrer, então fez o serviço, então eu que levei até Athena ?
Eu não chegei a conclusão nenhuma.
Contudo, ainda sou eu. Eu, Medusa.



B.

junho 24, 2010

Thinking of you.

Ele beijou os meus lábios,
Eu senti sua boca,
Ele me sugurou firme e fiquei com nojo de mim mesma.

Porque quando eu estou com ele
Eu estou pensando em você
Em como seria se fosse você quem estivesse comigo
Queria que eu estivesse olhando nos seus olhos
Seus olhos
Olhando nos seus olhos

Você não vai vir, e
Derrubar a porta, e
Me levar embora?



B.

junho 23, 2010

Você não está chorando.

you're not crying,
this is blood, all over me ♫


Enquanto subia uma cansativa rua, tentei organizar meus pensamentos, pra poder me expressar mais uma vez em mais um post. Mas estava tudo muito bagunçado, e resolvi deixar para escrever à noite: agora.
E agora, mudei de ideia novamente, e tudo o que quero escrever hoje é o que estive pensando.

Estive pensando em como me corta saber que te magoei (e não foi a primeira vez), entenda que é algo inconsciente, eu apenas o faço, e não sinto nada. Eu realmente não me importo com você, até que me fale, o quanto lhe magoei. Aí sim é a hora em que penso e repenso sobre meus atos, e vejo que você não merece esse meu lado infantil. Me desculpa por ser assim, às vezes ?

Foi um dia em que você não saiu da minha cabeça. E até mesmo enquanto estudava, me flagrei lembrando sobre nossa conversa de hoje, e não sabendo o que 'lia' nos parágrafos anteriores do meu livro.

Queria que você visse meu sorriso, e minhas lágrimas entre ele. Que pudesse ter uma noção da minha vontade de lhe abraçar e lhe dizer que tudo vai ficar bem, e que
é você.
Posso te contar um segredo ? Quando você sorri, tudo congela. Inclusive você, vira uma estátua. E eu fico admirando seu sorriso por horas, fico assistindo seus olhos entreabertos brilhando, seus lábios esticados, sua língua entre os dentes - algo tão peculiar. E então, quando sinto sua falta, falta do seu corpo vivo, você e tudo ao redor voltam, e o nosso tempo passar a correr novamente.
Queria ver suas lágrimas entre o seu sorriso.
Queria ver os mil ciscos.
Queria ver as mil fatias de cebola. Cozinhe para nós.


Eu não gosto da Lua, e nem das 19h



B.

junho 17, 2010

I tried.

Fique fora da luz, ou das fotos que você tirou de mim.
Você pode rezar, se precisar.
Poderia encontrá-la a sós ? Sempre lhe disse que não me sentia bem com outras pessoas. Mais uma noite e eu veria você, só que bastou uma noite pra tudo mudar pro seu lado.
Tocada por anjos, no entanto, eu caio fora das graças. E pra baixo nós vamos. Eu tentei.
Por que você fez isso comigo ? Quando foi que deixou de confiar em mim, quando foi que parou de pensar em mim ? Eu estive percebendo por pequenos gestos, que estava me deixando...me deixando...Isso não te machuca agora que sabe de tudo.

E nós todos dançamos sozinhos à canção da nossa morte.
Acho que nós não nos amaremos novamente, nós não riremos novamente. É melhor desse jeito pra você, sinto que está tão feliz, o futuro que sonhávamos pra nós duas, acabou. O sonho acabou.
Sabe o que percebi ? Que a felicidade é pequena demais pra nós duas.
E eu não acredito em triângulos amorosos, um sempre sai machucado.
E nunca de novo, e nunca de novo.


Foi você que pulou do precipício, eu esperava que me chamasse pra me jogar junto. E você não o fez, você nem me ligou pra avisar, fiquei sabendo por outros. Está feliz agora ? Que bom amigs... Eu não.


B.

junho 14, 2010

Observação.

Ao voltar da escola, vi aquela garota descendo de seu ônibus e atravessando a rua. As vezes a vejo andando por aí, mas há tempos não a observava detalhadamente.
Pois bem, seu rosto estava inchado e bem corado; envolta de seu pescoço tinha um bonito cachecol da cor de sua pele; seus lábios pareciam queimar, estavam tão vermelhos que o que os diferenciava de sangue, era por estarem secos. Ela atravessou a rua sem se preocupar com nada ao redor, e seguiu na longa calçada que leva à sua casa. Ela segurava firme seus cadernos contra o peito, e seu ombro esquerdo era visivelmente forçado para baixo, por carregar uma bolsa pesada. Tinha um olhar fixo em nada, uma expressão triste como de alguém de acabara de chorar. Mas eu sei que ela não estava chorando, pois seus olhos não estavam vivos pra isso. Não tinha como deixar escorrer uma lágrima sequer com aqueles lindos olhos mortos...
Chegou em sua casa, abriu a porta, jogou seu corpo para dentro, e girou a chave com rapidez. Então, deixou seu material escolar cair ao chão, bem como seu corpo, em seguida (Que apesar de muito leve, ela não era capaz de sustentá-lo por mais tempo).
Não sentiu dor alguma ao cair. O chão era frio, seus pêlos se arrepiavam, seus ossos congelavam, mas seu coração - bem como seus lábios - queimava, e dessa vez não era por algo ou alguém.
Decidiu sair de casa, e ao colocar as mãos no bolso da calça, achou notas que somavam $7. Parou. Pensou. Observou aquele pouco dinheiro. Resolveu gastar com algo que lhe dava prazer: comer. E saiu do supermercado com produtos diferentes. Em suas mãos, segurava pesadas sacolas; uma com cloro; outra com leite condensado, milho verde, e saudades. O peso das sacolas prendia seus dedos, impedindo o sangue de circular alí. Em suas mãos roxas, alguns anéis que brilhavam contra o sol.
E ao voltar pra casa, comeu tudo, jogou as embalagens fora, se despedindo da felicidade, e foi dormir. Há dias dormir era a sua vida. E ela está desacordada até agora... eu me recuso a despertá-la, pois estarei mais aliviada enquanto ela adormece dentro de mim.




B.

junho 08, 2010

Dia oito.

Pela manhã, ela ouviu diversas vezes a mesma maldita pergunta. "O que você tem ?". Ela estava se sentindo normal, cinza, 9 à 79. E nada tinha acontecido.
Um pouco mais tarde, se despediu de suas queridas, e foi ao encontro daquilo que a ofendia profundamente... Observou por minutos aquela antiga geladeira, pagou pelo seu almoço, e admirou a caixa de dinheiro do restaurante, que abria com uma lavanca, linda. Costumava sair o mais depressa possível daquela ofença.

Foi ansiosamente encontrar alguém que fazia sentir-se apaixonada: o novinho do ponto de ônibus. Era meio ridículo, mas quando ela o via, sentia-se uma criança com seu amor platônico, seus olhos com certeza brilhavam, e seu rosto ficava num tom estranho de vermelho, por ser muito branca. Ela colecionava os 'ois' envergonhados que ele dizia assim que a via.
Suas amigas achavam isso de muito mal gosto, a achavam safada, pedófila, boba, qualquer coisa. Cobravam-a por já ser comprometida. Mas isso a fazia sorrir ainda mais, era um detalhe de sua vida que ela vivia intensamente.
E só para deixar claro: Não. Ela não trocava NINGUÉM pelo garotinho.

Gostava de conversar com as pessoas sobre música, sobre o ENEM, e sobre pílula do dia seguinte.
Mas hoje ela queria descobrir o porquê de seu corpo coçar tanto, e estar toda empipocada, vermelha; ela odiava alergias, sua vontade era de tirar a roupa e mergulhar num copo com gelo. Apesar de ela ser pequena-insignificante o suficiente para caber num copo, fazia muito frio. Então, contentou-se em esfregar a bucha pela sua pele branquíssima, enquanto tomava banho.

Uma coisa não saía de sua cabeça. "O copo, o sal, limão, e depois meu trapézio no ar."
Era fã da Pitty, e queria muito ir à um show com duas pessoas que gostava muito da companhia: A fotógrafa Tentação de Eva; e o Futuro Enfermeiro Gato das fotos sensuais na escada.
Estava esperando.


"Mesmo em intermináveis dias e nites, estarei esperando por você. Porque dentro dessa chama, eu sei que é real."


B.