julho 07, 2010

Arraste-se.


Aquele dia estava sendo muito ruim, não tanto como o anterior, mas ainda assim, muito ruim. Eu tinha rolado pela cama a noite toda, pensando no que eu deveria fazer quando te visse. Tinha certeza de que conseguiríamos conversar, lavar as roupas tão sujas, e quem sabe, ficarmos bem. A verdade é que eu estava morrendo de vontade de falar com você.

Eu me sentia abandonada, sozinha numa estrada que nunca tinha passado antes. Você era quem eu procurava imediatamente quando me decepcionavam, quando me sentia triste, ou extremamente feliz. Com você eu não me sentia sozinha. E dessa vez, era sem [justamente] você que eu estava. Seria justo conversar sobre nossa situação sobre você mesma ? Chegar e desabafar pra você minhas mágoas sobre você ? Pedir conselhos sobre você e eu para você ? Não achava uma solução.
Não tinha pra onde correr. Apenas duas ou três pessoas estavam sabendo o que estava acontecendo, e estas não haviam gostado da minha reação. Tentei conversar sobre o que eu sentia com duas pessoas que confio (especificamente, uma amiga, e meu namorado), mas eu não podia dizer exatamente a causa da minha angústia, porque pra vocês duas ainda era um segredo; então tentava descrever minha dor sem ser explícita.

Chegou o dia.
Eu estava sentada em uma cadeira, no palco. Abri um livro, eu o folheava quando você se aproximou.
Trocamos palavras, nós sorríamos- mas não de alegria, era aquele sorriso de 'sinto muito'.
Meu coração apertava, estava rasgando meu peito, não aguentava mais segurar... e então, comecei a chorar. Foram lágrimas tão sinceras, tão doloridas, que você encostou minha cabeça em seu ombro tentando um abraço. O abraço: ele poderia significar uma cicatriz pra toda aquela ferida, ou um reenlace, ou a costura de uma roupa rasgada. Mas ele foi desolado, e quando te abracei, era como se estivesse caindo naquele chão sujo.
Você pediu pra eu não chorar; abaixei a cabeça deixando meu cabelo esconder os olhos, desviei meus olhos para meu livro, fingia prestar atenção nele, até que uma lágrima escorreu, pingando na página, o que denunciou que meu choro era intenso.
Você se levantou, se afastou, foi para perto das nossas amigas, e me deixou alí, de cabeça abaixada, desaguando.
Nesse momento eu senti vergonha de mim. Eu tinha uma peça para ensaiar, uma personalidade fria para fingir, e tudo o que queria, era ir pra casa. Eu me senti fraca demais, porém algo havia ficado destacado naquela cena: Eu ainda te amava muito. E ainda estava muito magoada.

"[...] Desculpa se fugi dos seus olhos naquela tarde, mas eles derramavam lágrimas e eu não podia derramá-las também, seria uma fraqueza que não podia demonstrar. "

Você registrou uma justificativa, e eu a li.




[Texto escrito para Bea Marques.]




B.

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