dezembro 25, 2012

E o vento levou

Essa não é uma história de amor, mas costuma parecer.
Aquela noite quente era o início de tudo. Dia 1 de Janeiro, e então era uma vez...
Shots de Jagermeister enquanto as meninas gritavam e riam contando suas histórias obscenas. Ela entrou no quarto e sentou próxima a mim segurando um copo cheio de vinho. Alguma voz nos apresentou por obrigação e a deixou no quarto como se fosse um despacho. E então, eu sorri entediada. Esse foi um início, junto ao resto de um reveillon falho e solitário numa hard house party.
 Nunca entendi porque eu desprezei uma figura de amizade feminina ao longo da minha vida. Estar ao lado de mulheres sempre me pareceu enjoativo demais para quem gosta de viver tão rapidamente. Estranhamente algo naquela noite insuportável de ano novo nasceria, e me faria mudar de ideia sobre coisas banais do cotidiano.
Tudo o que eu precisaria nos meses que estariam por vir, era ela. Um compartilhamento, uma troca de interesses, um amor verdadeiro e fiel, algo que chamam de amizade. De todos os acontecimentos importantes do ano, ela participaria de quase todos, e participaria intensamente.
E talvez pela primeira vez eu goste e admire alguém verdadeiramente, com respeito mútuo, com desejo de que tudo fique bem, tudo dê certo, tudo continue NOSSO.
Essa é uma história inacabada, com várias outras histórias dentro, umas com finais felizes, outras não. Mas já não posso dizer que estou completamente sozinha nas páginas referentes a esse ano. Já não posso dizer isso desde o primeiro dia dele.



B.

novembro 09, 2012

Perdida


Existe algo em sua mente?
O que você tenta esconder?
Não, eu não pareço
Conseguir segurar sua atenção

Sentado em um bar
Você vai afirmar que nós somos apenas amigos
Porque não há mentiras, não haverá mentiras
Entre nós dois

O que mais eu posso dar?
O que mais eu posso dizer?
Já que eu não posso fazer você me amar de qualquer jeito

Talvez eu não seria a única
Talvez eu seja muito nova
Mas por razões que eu não posso negar
Me sinto perdida por você

Com quem você está falando?
Ela está apaixonada por você?
Eu posso ver
E eu posso sentir
Você está pensando nela novamente

O que faço com esses remédios?
Por que me olha com esses olhos?
Onde está o senso
Onde está o senso
Em viver com o pretexto?

O que mais eu posso dar? 
O que mais eu posso dizer?
Já que eu não posso fazer você me amar de qualquer jeito
E por razões que não posso negar
Eu sou uma praga
E me sinto perdida por você...



B.


novembro 07, 2012

Lieb

Está tudo aqui. Está na minha garganta. Está no copo de água que estou tomando. Está nos meus dedos trêmulos que digitam. Está nos meus olhos: verdes.
Tudo o que tenho a dizer está comigo. Mas de que adianta se não quer me ouvir? Resolvi escrever, mas você ler-me-ia?
Eu nunca neguei sentir. Um pouco que fosse ou muito que seja, eu sempre me permiti colocar-me diante dos meus monstros e enfrentá-los, dizer a eles que eu seria mais forte que meus traumas dos relacionamentos passados, e que eu não temeria a possibilidade de ter novamente um rosto machucado por agressões, algumas veias estouradas, ou um óbito a enfrentar. Eu jamais o negaria.
Por que você fez isso comigo?
Por que você não sentiu isso comigo?
Por que não para de chover desde que você se foi?
Aí, Lieb, a rotina vai ficando pesada, você não tem mais sua válvula de escape, o tempo vai passando de-va-gar, os amigos não são mais agradáveis, as festas perdem a graça.
E depois de um tempo tentando decifrar os enigmas da esfinge, eu ouço vozes me chamando, ouço uma multidão pedindo ajuda. Eu estou lá, caída no meio de uma grande avenida, achando que tudo acabou, achando que estou ouvindo as últimas palavras antes de dormir. Dormir. Dormir. Eternamente dormir.
Eu sei que tudo está tão perturbador. Eu sei que você já chorou muito pela nossa situação. Eu sei que você talvez esteja arrependido de ter me conhecido. "De onde você veio, Brï?". Mas você teria me conhecido de qualquer jeito, a menos que... "Me desculpe por existir".
Eu estou tentando lutar para deixar essas páginas menos difíceis de serem lidas, menos ásperas, menos árduas, menos intensas.
E eu ainda não te disse o que está aqui: na minha garganta, no copo de água que estou tomando, nos meus dedos trêmulos que digitam, nos meus olhos VERDES.
Por que estou esperando o dia em que você queira me ouvir.

E o psiquiatra que me atendeu disse quando eu estava saindo da sala: "Nada disso vale a pena."

Eu deveria tê-lo respondido: "Viver não tem valido a pena."




B.

outubro 29, 2012

Carta ao Lobo

São Paulo, Outubro 30, 2012.

Boa noite, Lobinho.
Aonde estiver, eu sempre que me machuco sinto vontade de te procurar. E sabe que todas as feridas acabam me lembrando você. Estou toda cortada, em todos os sentidos: eu machuquei minhas pernas e pés, fiquei um tempo olhando para o sangue indo para o ralo. Pensei em como você deve ter sujado tudo de sangue quando fez aquilo, e eu estava tão distante, e mesmo assim senti o cheiro amargo dos seus cortes molhados, eu sabia que você tinha se decidido.
Por outro lado, meu peito também está cortado. E depois de você, quantos fizeram isso comigo? Até quantos eu suportarei? Sempre que alguém acaba comigo assim, me lembro de como você se deixou acabar por mim. Eu queria tanto estar perto de você... Queria te ouvir, queria lembrar de como seu cabelo era macio, queria que pudesse me escrever cartas.
Vou te contar, eu gosto dele. Ele também gosta de mim, mas é diferente, sabe? Está doendo, estou totalmente dolorida, mas prefiro não falar isso pras pessoas, já tem gente demais preocupada comigo. Por favor, não se preocupe. Eu acho que ele vai ser meu amigo, vai cuidar de mim se eu precisar. Ele até se preocupou com minhas pernas e pés arrebentados...
O que você acha dele? Acha que ele vai ser bom pra mim? Se você ainda estivesse aqui, seria amigo dele, ou sentiria muito ciúmes? Queria tanto que pudesse me responder.
Seja como for, eu sinto vontade de abraçá-lo como se fosse pela primeira vez. Sinto vontade de estar perto, de ler o que ele escreve, e principalmente de escrever pra ele. Talvez ele se irrite, eu falo demais, escrevo demais, choro demais. Mas sei que é porque eu gosto dele. Demais.
Aonde estiver, saiba que estou aqui, cumprindo com minhas tarefas, estudando, trabalhando, bebendo. Fazendo de tudo para suportar da melhor maneira possível.
Por favor, não me ache uma perdedora. Por enquanto eu só o perdi. Mas ele vai continuar aqui, eu prometo. Mas como meu amigo.

Sinto sua falta, todos os dias penso em você
Me perdoe.



Sua,
B.

setembro 28, 2012

Eine andere

Tens-me torturado.
Pense na lascívia.
Em enlaces fervorosos, reticências dos suspiros, juras endeusadas.
Pense em mim.
E não me peça por controle.



B.

setembro 26, 2012

Dê um laço

"Há a possibilidade de um dia a gente se ver novamente?"
Tenho pensado muito nessa frase. Engana-se quem acha que falo somente de um relacionamento amoroso. Às vezes nós temos perdas que vão muito além disso.
O que busco, hoje? Um pouco de paz, um bom emprego, boas notas na faculdade, um amor, e alguns doces estocados na geladeira. Ou simplesmente orgulho do que já foi traçado até aqui, de todos os tombos e pancadas que a vida deu, e dos bônus que coletei pelo caminho?
Não quero me arrepender, de nada. Quero poder sorrir ao falar de mim mesma. Contar aos outros sobre os lugares que já passei, as pessoas que conheci, os homens que já dormi, e quero poder sentir uma boa nostalgia. Quero pensar na possibilidade de repetições: reatar laços.
O meu laço hoje, nada mais é que uma fita longa, embaraçada. Não quero mais essa confusão, esse problema. Quero dar mais nós firmes, fazer desenhos sofisticados com essa fita, repetir técnicas.
Não quero guardar rancor, não quero ainda estar magoada, não quero uma próxima vida para ter contato novamente. Quero voltar a tocar, a respirar, a sonhar com o que me marcou positivamente.
Por favor, há a possibilidade de um dia a gente se ver novamente? 



B.

setembro 12, 2012

Beérre


Durante uma noite de linhas desalinhadas, diferente das linhas desenhadas em seu corpo, foi assim que congelaria seus olhares. E todos irão dizer que eu estou cega, que quando eu vi seu rosto,  você borrou minha mente, mas poderíamos, você e eu, ter sorte dessa vez? 
Diga-me se você sabe que isso parece estar apaixonado pela primeira vez. Sua escolha é ir embora agora, ou nunca mais sair, pois tenho um desejo malvado, e que fique claro que meus olhos claros estão cegos, e que quando eu vi seu rosto, você borrou minha mente, mas finalmente, você e eu, teremos sorte dessa vez.

B.

setembro 08, 2012

Nuvem

O dia acaba quando ele começa após uma noite na qual sonhei com você. A verdade é que pra mim, "desde que", não há nada pior.
Sempre preferi não sonhar, não ir pra outro lugar, outra realidade. Mas hoje você veio me visitar, um pesadelo. Primeiro que nós estávamos juntos. Segundo que eu estava feliz. Terceiro que você só queria sexo.
A vida é muito injusta, e eu não consigo lidar bem com o fato de que, além de você estar longe, alem de tudo o que me fez, eu não consigo me livrar de você. Eu já nem me lembrava, te citei, talvez, uma ou duas vezes, superficialmente, no dia anterior.
Mas você insiste em aparecer. Depois de tudo que levou de mim, levar minhas noites de sono é cruel. Ocupar um espaço dentro dos meus sonhos que poderiam permanecer vazios. Ou serem ocupados por outras coisas, outras pessoas, outro amor.
Não suporto ouvir sua voz, não consigo aceitar seus sorrisos, seu rosto entre o esbranquiçado cenário, como se vivesse entre uma nuvem... E por que não me deixa em paz, não me permite que te esqueça? Eu não quero mais um fantasma, e você tem sido o mais assombroso deles.
Eu não quero te amar. Boa sorte. Adeus.



B.

agosto 25, 2012

Desde que

Tentava tocar a vida, mas desde que ele se foi, sentia-se tão só...

junho 25, 2012

Seque os olhos

Lembre-se de mim quando o nariz começar a sangrar. Apenas dezenove, sonhos obscenos com seis meses presa por um mau comportamento.
Só lhe digo, que não diga que não vale a pena, desde que dei uma cambalhota sobre seu corpo, o vinho que bebíamos durante o filme, o sangue que limpamos do seu lençol.
Lembre-se de mim, todos os sonhos materializados, todas as noites sem sonhos, sem dormir. Eu espero que você volte atrás, eu estou te esperando no meio do caminho. E quando tivermos dinheiro, poderemos falar que o amor não é o suficiente, mas que temos o suficiente.
Lembre-se de mim, das longas viagens e dos presentes que usamos até hoje, das nossas alianças simbólicas, de todos os anéis. Lembre-se das roupas de couro, das lingeries pelo chão, e do cheio da manhã pura.
Lembre-se de mim, da vida árdua que levamos, e da vontade de fugirmos, e do ódio que sentimos dos nossos pais. Lembre-se do carinho, do caminho, e do carrinho de supermercado que encheríamos para levar para nossa casa.
Lembre-se de mim, das lágrimas no escuro, da minha expressão desesperada, e você dizendo... Seque os olhos. Alma gêmea, seque os olhos. Seque os olhos. Porque almas gêmeas nunca morrem.


B.

abril 19, 2012

Aniversário

Hoje é seu décimo oitavo ano.
Parabéns B., por todas suas conquistas.
Sabe tudo o que você queria, que diz respeito a solidão? Morar sozinha, almoçar sozinha, ir ao cinema e ao teatro sozinha, sentar na praça sozinha, dormir totalmente sozinha, e acordar sozinha também, fazer sexo sozinha, ser sua única e repetir que está so-zi-nha... Você conseguiu. Você procurou por tudo isso, coletou tudo isso, compatou tudo isso, e engoliu aos poucos.
Hoje você espera uma possível digestão. Compra seus próprios presentes de aniversário, escreve suas cartas e envia pro seu próprio endereço. Tenta conversar, tenta até se convencer do contrário. Finge que um cigarro é uma boa companhia para um sábado a noite, e que as músicas que você ouve preenchem o vazio que seus amigos deixaram.
Afirma que está apaixonada por si mesma, mas sabe que sente mais por aquela foto presa na porta da geladeira. A foto dele.
E por falar em fotos, tenta se convencer de que suas fotos, na verdade, são tão completas quanto as que sua amiga fotógrafa tirava. O problema não é a imagem final, a pose, ou a luz do dia. É a situação.
Fique bem, minha mulher, B. Muita saúde para aguentar os cigarros, muito dinheiro para se vestir, muita alegria para fingir, muita paz para suprir seus choros, e muito sucesso na sua única e insubstituível vida.
Feliz aniversário.
Eu te amo.

PS. Mas por favor, não continue sempre assim.



B.

abril 18, 2012

Seis meses depois

Repita aquela frase, que nem sempre está certa, sobre dar valor só após perder.
Me explique sobre aquele clichê de sentir falta de algo que nunca teve. Isso é inevitável?
Eu nunca mais olhei nos olhos dele, não sei o quanto brilham hoje. Mas suponho que não brilham.
Volto logo,



B.