agosto 28, 2010

À minha amada

Você veio do céu ou de um simples precipício ?
Beleza ? Seu olhar é divino mas daninho. Dá pra confundir o bem e o melefício. Eu te comparo ao vinho.
Nos seus olhos, vi o reflexo da luz diurna. Lança-perfume em uma noite tempestuosa. O seu beijo foi um filtro, sua boca uma urna. Você me tornou em um herói covarde, e em uma criança corajosa.
Se veio lá do céu ou do inferno, o que importa ?
Beleza ? Você é um monstro ingênuo, gigantesco, e horrível. Seus olhos, seu sorriso, seus pés abrem a porta do infinito.
Do Diabo ou de Deus, o que importa ? Anjo ou Sereia, o que importa ?
Você consegue ser uma mulher suave, rainha, perfume, ritmo... Faz o universo mais humano, faz as horas menos graves.



B.

agosto 27, 2010

Abóbada noturna

Eu te amo como se ama a abóbada noturna,
Ó taça de tristeza, ó grande taciturna
E mais ainda te adoro quanto mais te ausentas
E quanto mais pareces, no ermo que ornamentas,
Multiplicar irônica as celestes léguas
Que me separam das imensidões sem tréguas.

Ao assalto me lanço e agito-me na liça,
Como um coro de vermes junto a uma carniça,
E adoro, ó fera desumana e pertinaz,
Até essa algidez que mais bela te faz !

Porias o universo inteiro em teu bordel,
Mulher impura ! O tédio é que te torna cruel.
Para teus dentes neste jogo exercitar,
A cada dia um coração tens que sangrar.
Teus olhos, cuja luz recorda a dos lampejos
E dos rútilos teixos que ardem nos festejos,
Exibem arrogantes uma vã nobreza,
Sem conhecer jamais a lei de sua beleza.

Ó monstro cego e surdo, em cruezas fecundo !
Salutar instrumento, vampiro do mundo,
Como não te envergonhas ou não vês sequer
Murchar no espelho teu fascínio de mulher ?
A grandeza do mal de que crês saber tanto
Não te obriga jamais a vacilar de espanto
Quando a mãe natureza, em desígnios velados,
Recorre a ti, mulher, ó deusa dos pecados
- A ti, vil animal -, para um gênio forjar ?

Ó lodosa grandeza ! Ó desonra exemplar !

Eu te amo como se ama a abóbada noturna.




B.

agosto 22, 2010

Inveja

Pensei de verdade que nunca escreveria sobre isso. Mas hoje não aguentei.
Fui puxada por um anzol, e você insiste em aparecer na minha frente.
Na verdade não. Eu tenho te seguido pra saber aonde você vai e o que fazes. Tenho prestado atenção nas pessoas que você conversa e o que diz para cada uma delas. E sempre sei quando você está aqui. Tenho guardado os detalhes das suas poses, e decorei cada palavra que você gosta de usar.
Detesto os tecidos, os sorrisos, as fotos, os passos, e as músicas que você não guarda, apenas mostra. Detesto todos que te procuram, inclusive eu, e todos te te admiram. Admiram os malditos tecidos e sorrisos e fotos e doenças.
Confesso que meus dedos são atraídos pra perto de você, mesmo quando não está exatamente aqui. Que adoraria realizar sozinha pelo menos uma das coisas que você faz. Porém, me divirto quando debocho de você, porque me faz bem ter a certeza de que sou melhor, mesmo que esse melhor demonstre uma insegurança, e até exagero.
Toda vez que te procuro, quase como as outras pessoas, me arrependo. Não gosto do que sinto, desse ódio que têm me corroído e levado meus pensamentos para um poço.

Quem é você que pela primeira vez, me despertou algo que diagnosticaram como inveja ?

Você não merece que eu escreva,
Eu odeio você.




B.

agosto 21, 2010

Where's the sun ?


E me perguntei a segundos atrás,
Onde está o sol ? Será que ele brilha em algum lugar do mundo, nesse instante ?
Eu acho que não. Nunca pra mim



B.

agosto 17, 2010

V de Vegan

Naquela época ela olhava pro espelho, e confirmava que era doente.
Seu coração batia por um garoto chamado Vegan; Vegan deu às costas à ela várias vezes, mas uma, em especial, a machucou muito.
Ela o achava diferente, dava à ele uma importância incomum, chegava a ficar horas acordada de madrugada para poder dar um 'boa noite' que fosse à ele. Se falavam toda madrugada, faziam um bonito casal, e tinham uma intimidade avançada- tanto pela idade dela, quanto pelo pouco tempo de relacionamento. Ele era cinco anos mais velho que ela, mas na maioria das vezes, não parecia.
Vegan mentia. Mentia e flertava com outras garotas na frente dela. Porém, ela não podia falar absolutamente nada, pois ela era a outra.
Um dia, Vegan sumiu. Ela ficou preocupada, não sabia onde procurá-lo. Ele nunca mais entrou na internet, um celular que nunca atendia, nenhum e-mail respondido, nenhuma notícia. Nem mesmo os amigos sabiam dele. Passou pela cabeça dela procurar sua mãe e perguntar o que estava acontecendo, mas faltou-lhe coragem.
Muitos meses depois, um amigo a avisou que Vegan tinha viajado para servir ao exército, e que estava bem. "Muitos meses depois" - isso significava mudanças dentro, fora, e ao redor dela... Algo a aliviou, como se sempre tivesse a certeza de que ele não havia a deixado, e que ele reapareceria um dia. Porém a raiva foi maior quando percebeu de que, sim ! ele havia a deixado, e sem explicações, sem uma ligação sequer, sem um código sequer, sem nada, sem pistas. Decidiu que estava na hora de esquecê-lo. E o fez (ou pensou que o fizera).
Mais meses passaram, e ele retornou. Retornou primeiro aos amigos, às garotas, e depois à ela. Seu coração pulava quando o viu na sua frente, depois de um ano. E então, uma longa conversa a machucou ainda mais.

- Eu gostava de você.
- Eu gostava de você.

Acabou o que já havia acabado. O tempo curou os dois da raiva, arrependimento, e fez com que se tornassem colegas. Como um renascimento, eles passaram a conversar sobre seus dias, seus próximos amores, e também relembrar algumas coisas do passado. O tempo também cuidou de esfriar a mente (e o corpo) de Vegan. E assim, nada acabou.



Um dia, perguntei à Vegan o porquê de ele não ser fiel para comigo.
E ele respondeu:
- Porque você é doente, Brï.




B.

agosto 11, 2010

Emdependência

...Mas você se esforçou tremendamente para me trancar do lado de fora da sua vida.
As pessoas são persistentes quando se trata de garantir sua independência imaginária. Elas acumulam e guardam a doença como se fosse um bem precioso. Encontram sua identidade e seu valor na mutilação e os guardam com cada grama de força que possuem. Não é de se espantar que a graça seja tão pouco atraente.
Há muitas pessoas como você, que terminam se trancando num lugar muito pequeno com umm monstro que acabará traindo-as, que não as preencherá nem lhes dará o que elas imaginavam.



B.

agosto 10, 2010

Perim.

- "Faz uma hora que estou nessa fila". Pensei.
Esperava pela comida, com óculos escuros escondendo as olheiras de quem acordou e já saiu de casa.
Eu prestava atenção na prateleira de sucos, tentando escolher qual eu levaria junto à comida. Percebi uma moça com seu namorado; ela me chamou atenção pela sua camiseta; azul marinho, enorme, jogada de qualquer jeito em seu corpo, e estampada com uma imagem semelhante à capa do álbum Hypnotize- System of a down. Tinha longos cabelos encaracolados em degradé, que se espalham por seu ombro e seios.
Quando meus olhos subiram até seu rosto, ela olhou para uma mulher na minha direção, sorriu, apontou, e foi abraçá-la. Então eu a reconheci. Tratava-se da Perim, minha melhor amiga quando eu estava na pré-escola. Óh Deus, como ela está diferente. Porém, algo em seu rosto a denunciou, talvez os olhos sorrindo junto aos lábios, talvez o sorriso, talvez o rosto pequeno arredondado. Após abraçar a mulher, apresentou a ela seu namorado, e acabou olhando para mim. Durou segundos, ela ficou séria como se também me reconhecesse, mas logo voltou sua atenção para a conversa. Então se despediu da mulher, arrumou a bolsa transpassada pelo corpo, abraçou seu namorado e foi embora.
Eu, muito mau humorada, nem tentei arriscar um sorriso. Mas fiquei pensando nisso pelo resto do dia. Esses meus antigos colegas, pra mim, continuavam a mesma coisa que eram na época. Assim como, pra mim, não mudei nada. Erámos crianças com corte de cabelo semelhante, uniforme da escola, e gostos iguais. Hoje parecemos adultos, e busca de mais desejos e de caminhos para alcançarmos nossos objetivos- no qual apareceram por esses nove anos.

É intrigante como depois de nove anos, conseguimos reconhecer pessoas.



B.

agosto 06, 2010

Rèforme

Logo que desliguei o despertador, me perguntei aonde estava a dor de cabeça da noite passada; a procurei nos meus olhos, na minha nuca, nos ossos temporais, e até na mandíbula. Felizmente, ela desistiu de mim por um dia.
Fiz tudo tão correndo que nem me lembrei que dia era hoje. Não é um dia importante, mas eu tinha que falar meia dúzia de frases verdadeiras, que, além de convencer as pessoas, teriam que fazê-las entenderem. Não havia nada mastigado, foi terrível, passei muita vergonha; mas ao fim consegui algo especial: Muito Bom !
Estou conseguindo comprimentar e sorrir pra algumas pessoas, estou me sentindo bem, estou ... limpa. Até sorri quando olhei pro espelho e vi meus olhos tão transparentes.
O tempo passou rápido, e o sol me deixou mais confortável quando cheguei em casa. O frio é desinteressante, e me faz muito mal. Também preciso voltar a comer, quero meus hábitos saudáveis de volta.
Há duas semanas tomo suco de laranja sem parar. Ao final do dia, a pia da cozinha coleciona copos sujos. Fiz as contas e estou tomando um litro de suco de laranja em dois dias. Isso não faz bem, mas me faz feliz. Um pouco que seja.
Quando anoitecer, quero ler meu livro e dormir cedo. Amanhã tenho que lavar minhas paixões.

Estou bem.



B.