julho 28, 2011

Uma terceira língua


A vida me deu um tapa na cara.
Avisou-me desde o início que eu pagaria por todos os crimes cometidos. Ela me deu uma carta branca pra fazer o que quiser, contanto que eu estivesse ciente. Eu estava, juro!
Resolvi brincar de abrir meus olhos, e eu até cantei, me diverti mesmo, as custas de quem não merecia. Mas pensei estar caminhando segura. Eu olhava para meus pés, firmes ao chão, sorria pra vida e ela pra mim.
"Brincadeiras tem limite", dizia ela, começando a me assustar. Mas me deu tanto poder que eu não tinha mais onde guardá-lo. Usei de tal forma desperdiçada, que derrepente, não havia mais aquele pó brilhante em minhas mãos.
Resolvi viajar, e a falta do pó brilhante (que não serve para cheirar, comer, ou fumar, apenas para "gozar") começou a me incomodar. Havia algo estranho, minhas mãos e a vida estavam... Vazias.
Foi aí que eu apanhei dela.

Marcas no meu rosto denunciam: A vida me deu um tapa na cara.
Eu fui avisada...



B.

julho 07, 2011

César

Era um dia ruim, sem sol, no qual eu poderia ter colocado qualquer roupa que me apagasse ainda mais nas ruas vazias e feias da cidade. Mas escolhi algo que sem querer me destacaria.
Caminhei até o cruzamento onde cada esquina há uma loja cara de roupa, e antes de atravessar a rua, percebi que estava sendo olhada por ele. De longe ele se destacava pelo cabelo mais claro na raiz, encostado na parede aquecida de uma das lojas do cruzamento. Ele fumava um cigarro enquanto me olhava desde os pés, indiferente, reparando na minha roupa.
Eu resolvi entrar pelo outro lado da loja para não encará-lo, mas ao entrar, ele subiu os três degraus, localizados ao lado da parede aquecida, jogou o cigarro no chão, e entrou na loja.
Fiz de tudo para não olhá-lo nos olhos, e consequentemente não ter que cumprimentá-lo. Eu me perguntava o que ele estaria pensando naquele momento. Talvez ele se surpreendera comigo, afinal estou diferente da pessoa que ele conheceu na época. Ou simplesmente gostaria de sorrir pra mim.
Eu, covarde, fiz de tudo para não virar, não olhá-lo nos olhos, e não cumprimentá-lo. Mas em uma loja com quatro paredes e nenhum corredor, seria impossível.
Eu olhei para o chão, coloquei as mãos dentro do bolso da jaqueta, e rapidamente desci três degraus, localizados ao lado de uma parede aquecida. E em pensamento, disse "Adeus, César."



B.