outubro 29, 2012

Carta ao Lobo

São Paulo, Outubro 30, 2012.

Boa noite, Lobinho.
Aonde estiver, eu sempre que me machuco sinto vontade de te procurar. E sabe que todas as feridas acabam me lembrando você. Estou toda cortada, em todos os sentidos: eu machuquei minhas pernas e pés, fiquei um tempo olhando para o sangue indo para o ralo. Pensei em como você deve ter sujado tudo de sangue quando fez aquilo, e eu estava tão distante, e mesmo assim senti o cheiro amargo dos seus cortes molhados, eu sabia que você tinha se decidido.
Por outro lado, meu peito também está cortado. E depois de você, quantos fizeram isso comigo? Até quantos eu suportarei? Sempre que alguém acaba comigo assim, me lembro de como você se deixou acabar por mim. Eu queria tanto estar perto de você... Queria te ouvir, queria lembrar de como seu cabelo era macio, queria que pudesse me escrever cartas.
Vou te contar, eu gosto dele. Ele também gosta de mim, mas é diferente, sabe? Está doendo, estou totalmente dolorida, mas prefiro não falar isso pras pessoas, já tem gente demais preocupada comigo. Por favor, não se preocupe. Eu acho que ele vai ser meu amigo, vai cuidar de mim se eu precisar. Ele até se preocupou com minhas pernas e pés arrebentados...
O que você acha dele? Acha que ele vai ser bom pra mim? Se você ainda estivesse aqui, seria amigo dele, ou sentiria muito ciúmes? Queria tanto que pudesse me responder.
Seja como for, eu sinto vontade de abraçá-lo como se fosse pela primeira vez. Sinto vontade de estar perto, de ler o que ele escreve, e principalmente de escrever pra ele. Talvez ele se irrite, eu falo demais, escrevo demais, choro demais. Mas sei que é porque eu gosto dele. Demais.
Aonde estiver, saiba que estou aqui, cumprindo com minhas tarefas, estudando, trabalhando, bebendo. Fazendo de tudo para suportar da melhor maneira possível.
Por favor, não me ache uma perdedora. Por enquanto eu só o perdi. Mas ele vai continuar aqui, eu prometo. Mas como meu amigo.

Sinto sua falta, todos os dias penso em você
Me perdoe.



Sua,
B.