dezembro 17, 2010

Através do vidro

A minha vida toda (toda mesmo) fui uma criança dessas que ficam com a cara grudada em uma vitrine, desejando algo que nunca poderão ter.
A minha vida inteira, estive olhando algo através do vidro.
Meus pais, felizmente, durante minha infância tiveram condições de me dar os melhores presentes, a melhor alimentação, e o mais importante: carinho. Mas isso durou apenas a infância. Um dia todos tem que crescer.
E eu cresci olhando as famílias reunidas através do vidro; as garotas bonitas; os colegas que tinham dinheiro para comprar as melhores coisas (já que a situação financeira dos meus pais decaiu); o garoto no qual eu pensava que um dia me amaria; estudantes podendo estudar de verdade; entre outras coisas.
Eu pensava que estava curada de todo esse mal que me separa das coisas que desejei, mas hoje, mais do que nunca, ele permanece forte. Hoje, eu simplesmente observo a vida alheia através do vidro.
Todas essas situações me deixaram péssima, claro. Fizeram eu me sentir menor, pior, horrível, nada. Me fizeram querer mais mal, talvez a mim, talvez àqueles que levam uma vida melhor...

Disso, nada concluo.
Só continuo achando que a vida não é justa. E eu sou uma idiota.



"Eu estou te olhando através do vidro
Não sei quanto tempo se passou
Oh Deus, parece uma eternidade... "

B.

dezembro 15, 2010

Ninguém.


Hoje estou com vontade de desistir de tudo. Dos sonhos, das minhas vontades, do que ainda me faz viver, e todas essas coisas que a gente descarta quando nos sentimos desolados. Estou desiludida. Já não encanto mais ninguém, já não sou boa em nada que faço. Hoje eu não tenho mais utilidade nenhuma. Olho pra mim e vejo... nada vejo ! Não sou ninguém e passei a aceitar isso a partir de agora. Nada em minha volta me interessa, vocês não são o que eu procuro. O que eu procuro está distante. O que eu procuro, pra uma pessoa-ninguém como eu, é inalcansável. Vi as coisas inspiradoras e otimistas que escrevi, sobre correr atrás dos sonhos, persegui-los, acreditar, e... Que merda é essa ? Nada disso existe mais. E talvez nunca tenha existido. Não fui feita para me satisfazer com apenas o idealizado. E o concreto não é fácil, nem rápido, nem certo, nem real. Tudo o que pensei ser até hoje não é real. Mas hoje sou real. Sou o que sempre fui, e deveria ter me contentado com isso : Ninguém.



B.

dezembro 05, 2010

Ainda

Ainda como as migalhas de pão
Ainda tenho medo do meu futuro
Ainda choro quando leio notícias de vestibular
Ainda tenho inveja de quem é mais feliz que eu
Ainda olho pra baixo quando não sei o que dizer
Ainda me olho no espelho quando não sei o que fazer
Ainda me desespero quando não sei como me resolver
Ainda procuro pela solidão
Ainda desprezo conversas fáceis
Ainda desisto de resoluções difíceis
Ainda rezo quando acho que estou morrendo
Ainda creio em Deus
Ainda creio na arte
Ainda creio na música
Ainda creio nas pessoas
Ainda gosto da cor preta
Ainda não aprendi a tocar nenhum instrumento que meu pai me deu
Ainda me sinto triste quando chove
Ainda tenho medo de fantasmas
Ainda me sinto sozinha
Ainda me inspiro em coisas impróprias
Ainda me emociono em filmes
Ainda me presenteio
Ainda tenho dívidas financeiras
Ainda admiro meus ídolos
Ainda prefiro gatos
Ainda tento pensar positivo
Ainda penso negativo
Ainda reclamo de tudo
Ainda acho a vida uma vadia
Ainda acho a minha vida uma putaria
Ainda falo palavrões
Ainda faço comparações
Ainda sou sociável
Ainda exagero
Ainda sinto
Ainda repito
Ainda me excito
Ainda estou viva
Ainda não mudei
Ainda sou eu

Afinal, sou eu, Ainda.


B.