junho 14, 2010

Observação.

Ao voltar da escola, vi aquela garota descendo de seu ônibus e atravessando a rua. As vezes a vejo andando por aí, mas há tempos não a observava detalhadamente.
Pois bem, seu rosto estava inchado e bem corado; envolta de seu pescoço tinha um bonito cachecol da cor de sua pele; seus lábios pareciam queimar, estavam tão vermelhos que o que os diferenciava de sangue, era por estarem secos. Ela atravessou a rua sem se preocupar com nada ao redor, e seguiu na longa calçada que leva à sua casa. Ela segurava firme seus cadernos contra o peito, e seu ombro esquerdo era visivelmente forçado para baixo, por carregar uma bolsa pesada. Tinha um olhar fixo em nada, uma expressão triste como de alguém de acabara de chorar. Mas eu sei que ela não estava chorando, pois seus olhos não estavam vivos pra isso. Não tinha como deixar escorrer uma lágrima sequer com aqueles lindos olhos mortos...
Chegou em sua casa, abriu a porta, jogou seu corpo para dentro, e girou a chave com rapidez. Então, deixou seu material escolar cair ao chão, bem como seu corpo, em seguida (Que apesar de muito leve, ela não era capaz de sustentá-lo por mais tempo).
Não sentiu dor alguma ao cair. O chão era frio, seus pêlos se arrepiavam, seus ossos congelavam, mas seu coração - bem como seus lábios - queimava, e dessa vez não era por algo ou alguém.
Decidiu sair de casa, e ao colocar as mãos no bolso da calça, achou notas que somavam $7. Parou. Pensou. Observou aquele pouco dinheiro. Resolveu gastar com algo que lhe dava prazer: comer. E saiu do supermercado com produtos diferentes. Em suas mãos, segurava pesadas sacolas; uma com cloro; outra com leite condensado, milho verde, e saudades. O peso das sacolas prendia seus dedos, impedindo o sangue de circular alí. Em suas mãos roxas, alguns anéis que brilhavam contra o sol.
E ao voltar pra casa, comeu tudo, jogou as embalagens fora, se despedindo da felicidade, e foi dormir. Há dias dormir era a sua vida. E ela está desacordada até agora... eu me recuso a despertá-la, pois estarei mais aliviada enquanto ela adormece dentro de mim.




B.

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