outubro 17, 2010

Carta à Alex

Mairinque, Outubro 17, 2010.

Querido Alex,

Faz muito tempo que não te vejo, que não te observo, ou presto atenção nos seus detalhes. Sinto sua falta.
Você deve ter 18 anos agora, já é um homem.
Nesse tempo tenho me perguntado como você está - Se está em um presídio qualquer, ou está livre e feliz. Se está sozinho, ou com Mayce. - nesse caso prefiro que esteja só.
E Jared ? Tem saído com ele ? Você precisa me apresentar à ele. Conheci no ano passado um garoto muito parecido com Jared- longa história. De amor.
Por falar nisso, fiquei feliz quando soube que terminou com a Jhennifer. Saiba, querido, não está perdendo nada. Além do sexo de graça, é claro.

Sobre mim,
As coisas em casa estão uma droga. No colégio também. Meus amigos estão bem, estão felizes, assim como o namorado.
Mas eu quero que o tempo passe logo. Gostaria de avançar dois anos. E você conhece o porquê.

Enfim, continuo buscando notícias sobre você. Apesar de eu ter certeza que elas virão apenas quando você voltar.
Volta pra mim, Alex.

Eu te amo,



B.

outubro 13, 2010

Chave da vida

Quando eu era pequena, sempre me perguntavam o que eu queria ser quando crescer.
Eu respondia: "feliz".
Então eles me falavam: "Não, você não entendeu a pergunta !"
E eu dizia: "Não, vocês não entenderam a vida..."




B.

outubro 02, 2010

Carta à Vovó Sônia

Mairinque, Outubro 02, 2010.

Olá Vovó.
Não sei pra onde endereçar a carta. Não sei onde está, assim como também nunca soube quando a senhora estava viva. Pois é Vovó, gostaria que fossemos próximas, gostaria de conversar sobre as roupas que a senhora usava quando era jovem, elas de fato me interessariam.
Mas não vem ao caso os anos que perdemos de sermos amigas, ou simplesmente avó e neta.
Espero que tenha encontrado a tal paz que todos comentam. Mamãe me disse que você pagaria pelas coisas ruins que fez enquanto viva, mas eu espero que você tenha encontrado a paz.
Você deve nos ver daí, onde está, não é ? Vês os nossos problemas familiares que a cada dia pioram. Sinto vergonha disso, não contei pra ninguém sobre os acontecimentos recentes entre mamãe e sua filha (a Tia Fá), e nem sobre Papai.
Papai parece bem, talvez ele sinta sua falta. Mas perder uma mãe nem sempre é triste.

Ontem papai veio em casa, e me contou sobre suas coisas. Você também deve saber que, logo que faleceu, pedi que me dessem suas coisas. Sei que de todos os herdeiros, sou quem mais dará valor aos objetos em si, e não ao valor capital deles. Mas quem acreditou em mim ?
Eu queria suas roupas de época, suas jóias tão antigas, suas fotografias já desbotadas, e alguns objetos de decoração que comprara em suas mil viagens para o exterior. Mas não para vender, como a Tia Fá ou o Tio Guis. Eu queria pra mim. E não deixaram; não me deram um anelzinho sequer. Confesso que chorei.
Essas histórias de herança são sempre assim, todos vão encima do que sobra dos mortos, como urubu na carniça. Mas com seus interesses financeiros, claro. Eu não, juro que tenho carinho pelos seus pertences.
Ainda guardo aquela caixinha que me deu, dourada, com uma imagem de pavão, que trouxe de Paris. E também aquela de cobre no qual a tampa é uma jovem com um gato - não sei de onde trouxe essa. Mas são relíquias que não pretendo me desfazer.
Papai ontem me deu uma fotografia sua, de quando jovem. Deduzo que tinha uns vinte anos de idade. Vovó ! Como era linda ! Não sabia o quão bonita era... Sabe, você era parecida com a modelo Twiggy. Guardarei a fotografia.

Amanhã pedirei à papai que me leve aonde você morava. Ele limpou a casa. E parece que você deixou cerca de quinze gatos ! Ao certo, Tio Guis e papai os colocaram para fora. Triste.
Não tenho medo de ficar sozinha lá.
Acho que perdi o medo de espíritos. E da morte.

Será que você nos vê e nos ouve daí ?
Só espero que leia esta carta.


Com carinho, de sua neta,




B.