novembro 30, 2010

Semelhanças

Ontem à noite vi o carinha do supermercado no ponto de ônibus. Eu gosto dele. Gosto da voz dele também, e da forma como ele me atende quando vou comprar algo.
E eu sei porque gosto tanto. É porque ele me lembra meu André.
Não sei se é a cara de menino, ou o sorriso quase transparente. Mas quando o vejo me derreto em simpatia simplesmente por ter semelhanças físicas com uma pessoa que amo e não posso abraçar.
De fato, eu não amo o carinha do supermercado. Mas talvez me sentiria aliviada ao abraçá-lo.
Isso sempre aconteceu comigo. Sempre tenho esse carinho por pessoas que se parecem com queridos meus. E ontem, também, vi uma garota que me lembrou Karina. Uma japonesa que estudou comigo no prézinho, e após se mudar para o Sul, me escreveu durante um ou dois anos. Derrepente parei no meio da calçada, assustada, porque me veio o seguinte pensamento: A Karina quem faleceu ano retrasado ???
Não. Não foi Karina. Aliás, ela está bem viva. Mais viva do que eu. Foi outra japonesa, colega minha, quem infelizmente partiu.
Esses confusões me fazem mal. Que bom que são poucas pessoas que se parecem com outras. Que bom que ninguém se parece comigo. Ou não... porque eu gostaria de ser parecida com Brigitte Bardot. Enfim.
Voltando ao carinha do supermercado, penso seriamente em qualquer dia, do nada, agradecê-lo. Simplesmente por me dar um sorriso toda vez que apareço por lá para comprar algo, pela atenção que ele me dá quando pergunto (sempre!) o preço das saladas embaladas. E principalmente por me confortar, ao lembrar do meu André.
Talvez ele deboche de mim. E eu pouco me importo. Pois ele talvez um dia ame alguém, como eu amo meu André.



B.

novembro 21, 2010

Presente

- Toma! É pra você.
- Não precisava…
- Mas eu quis te dar.
- Já falei que não precisava.
- Presente é presente! Aceita.
- Tá. Mas se eu não gostar posso trocar ?
- Trocar ? Ah. Ué. Presente não se troca…
- E como você espera que eu use alguma coisa que não me serve ?
- Mas vai servir !
- Eu não te amo, Brï. Entenda.


(That's what Andreas do with me all the time.)




B.

novembro 08, 2010

Brï lhando

Sempre gostei de parques de diversões. Dos brinquedos, das pessoas, da liberdade, da diversão...
Mas algo que sempre me tocou, de uma forma diferente de tudo, foram as luzes. Ao anoitecer, todos os brinquedos contornados por luzes coloridas, e só.
O céu tão escuro, a noite fria, a vida se esgotando... E aquelas luzes piscantes, tão hipnotizantes que pareciam puxar meus olhos.
Hoje, quando voltava pra casa, passei por um lugar com alguma semelhança. Não era um parque. Não tinha roda-gigante contornada, nem carrinhos 'voando'... Mas era iluminado. Isso bastou para que eu tivesse a mesma sensação. Foi tão forte que segui aquele brilho com os olhos, cabeça, corpo, e alma. Principalmente alma. Até sumir dentro da noite escura, fria, vazia, e mortal.
Nesse instante, me senti tão só, que pus-me a chorar quieta, mas - eu juro ! - não sei se foi alegria ou tristeza.
Eu senti.


E eu, que quando criança, achava que a vida era pra sempre.



B.

novembro 03, 2010

Socorro !

Ela nos disse que não importava pra quem você escreveria. Que o importante era escrever.
Eu não entendia como ele conseguia se sentir melhor, depois de tudo, apenas com um papel. Talvez ele tivesse a certeza de que ela também sabia o que tinha acontecido, por isso se sentia aliviado.
Mas no meu caso, ninguém sabe.
Juro que estou disposta a ficar dias mais próxima de qualquer pessoa; eu preciso muito contar o que houve pra alguém... Mas não há ninguém.
Sempre preferi confiar segredos à desconhecidos. Afinal eles poderiam pensar o que quisessem de mim, julgar, ignorar, etc, e eu não me importaria. Afinal eram desconhecidos. Pessoa próximas à mim me machucariam mais; e eu, como toda pessoa egoísta, não queria isso.
Ainda penso, quero, e faço dessa forma. A única diferença, é que dessa vez, não apareceu ninguém pra eu poder contar uma palavra que fosse. Por isso vim escrever.
Quem sabe ela tinha razão... Quem sabe essa é a chave do alívio, do descanso, da cabeça fria e um pouco livre dos problemas.
Mas por enquanto, tudo o que faço é ler desesperadamente tudo o que aparece na minha frente, procurando respostas e distração. E chorar. Muito. Muito. Muito. Muito...
Estou a algumas horas chorando sem parar, querendo apenas alguém que me ouça e que me diga que tudo é uma mentira. Porque preciso que seja mentira.
Já tentei mentalizar que está tudo bem; que nada aconteceu; que preciso ficar calma. Consigo por três segundos... depois volto a chorar.

Talvez se eu contasse pra minha mãe... Ela não gostaria que eu escondesse dela.
Ou procurar a polícia... Ou um médico...
Ou você.



B.