julho 30, 2010

Segunda - feira

O barulho do microondas anuncia o começo do dia. É o início da semana e as pessoas seguirão resignadas pegando ônibus ora cheios, ora vazios.
No meu caso, até chegar ao colégio meu estômago permanece embrulhado; o cheio de ônibus, de pessoas, de humanidade me enche de náuseas. Tudo o queria, era poder ficar na minha casa sozinha. Ter que acordar me incomoda, assim como ter que dormir.
No colégio, vejo algumas pessoas sentadas em seus computadores, alguns novos, alguns velhos, alguns brancos, alguns pretos; digitando meia dúzia de bobagens por minuto. Alguns fingindo dedicação e afinco às suas tarefas, enquanto passeiam discretamente por sites que vão de pornografia à receitas de simpatia pra arrumar um homem. Outras preferem saber como anda a vida das celebridades e quem é o assassino da novela. Ainda há quem goste de ler sobre as tragédias do mundo, desabamentos, tornados, tempestades, afogamentos e incêndios. Nada de novo acontece, de fato.
Vejo pessoas conversando alto, achando que a vida é foda. De fato é foda. De ruim.
E a ânsia volta quando algum professor entra na sala. Cada palavra é como um soco na minha barriga, o que eu comi começa a subir, sinto passar pela minha garganta.
Finalmente tudo acaba, e eu corro pra qualquer ponto de ônibus, pra sentir um maldito sol no corpo e novamente cheiro de gente.
Toda segunda-feira (e terça, e quarta, e quinta, e sexta) penso mil vezes antes de decidir levantar da cama. Se eu pudesse, não acordaria nunca mais.




B.

julho 29, 2010

Greve

Eu não queria morrer assim, de um jeito bagunçado e pouco bonito. Apesar de que, claro, não queria continuar vivendo.
Também não queria morrer para sempre. Podia ser só uns meses, como uma greve pra vida: " Querido deus, estamos aqui fazendo um motim contra a existência, porque tá foda. O sindicato pede apenas um aumento de boas notícias no contra-cheque da vida".
Eu quero aprender com a alegria, agora. Não há mais nada que a tristeza possa me ensinar. Não é mais produtivo, inspirador; perdeu a graça.
Como dizia Fátima Guedes 'Infelicidade cansa'
Dá um desespero tão grande, tão grande.

Minha mente mimada sempre acha que eu mereço uma recompensa pelas coisas que passei e pelo comportamento exemplar que tive depois delas. Tá, tive um péssimo comportamento, e na verdade, nem merecia nada. Eu fico achando que Deus devia mandar finalmente uma recompensa por isso tudo: e pelo fato de eu continuar lutando. Mas cara, cadê ? É sério que a vida inteira vai ser essa sucessão de fracasso ?
Então eu tenho o direito de me recusar, né ? Porque puta que pariu.

Eu queria morrer devagar e bonito, tipo gelo derretendo. Mas fico aqui olhando pra essa janela e pensando:
- É capaz que eu não consiga me matar; nada que eu quero dá certo, anyway.



B.

julho 28, 2010

O Anônimo

Obedeça (a mim)
Acredite (em mim)
Só confie (em mim)
Venere (a mim)
Viva (pra mim).

Seja grata (agora)
Seja honesta (agora)
Seja preciosa (agora)
Seja minha.

(apenas ME ame)

Possessão (alimente meu único vício)
Confissão (eu não vou dizer duas vezes)
Decida (até morra por mim)
Ou desista (de toda chance que você tem de ser livre).


[T
he nameless - S.]
B.

julho 25, 2010

Seus desenhos

Naquele momento, o relógio marcava 23h, e ela esperava para fazer uma ligação.
A madrugada passada tinha sido muito solitária, o dia amanhecera péssimo, ficou trancada em sua casa pensando besteira. Achava que até mesmo o pano de chão sofria menos tédio que ela.
Dias chuvosos sempre atrapalhavam de alguma forma. A chuva tinha tudo para ser bela, mas insistia em ser sua inimiga. O que seriam dos dias sem chuva ? Dias bons - pensava consigo.
Quando o relógio marcava 00h, no passado, era hora de botar suas ideias no papel. Ela desenhava. Detestava seus desenhos, mas era tão confortável sentir o coração na boca (exposto ao mundo sujo em que vivia) enquanto o fazia; sentir o pulsar sobre sua língua... Só que as coisas tinham mudado durante os meses: tinha muitas ideias mas faltava inspiração. E também mãos. Há algum tempo havia perdido suas mãos para outros afazeres, e desenhar - imaginava ela - seria muito complicado.
Julgava-se fracassada. Era uma das únicas coisas em sua vida que ela entendia e TALVEZ fosse talentosa, (não era inteligente; não era bonita; não escrevia bem pois não sabia escolher palavras; não tinha dinheiro sobrando; e não era alguém agradável.) e justo nisso, ela falhava. Falhar talvez nem seja a palavra certa, pois ela amaldiçoava tudo ao redor antes mesmo de tentar encaixar o lápis nos dedos e riscar o papel.
Conforme os dias passavam, era uma folha a menos no calendário, e ela não tinha feito nada; nenhuma tentativa. O tempo estava acabando.
Sua decisão foi a pior possível: esperar. Espera pela inspiração, esperar a chuva passar, esperar mais folhas de calendário serem descartadas, esperar por um dia inútil pra ela jogar fora. Faltava-lhe, visivelmente, atitude. E ela parecia estar ciente disso. Ela precisava de ajuda.
Mas não agora, pois chegou a hora de ela fazer a ligação. Afinal, esperava por isso também.




B.

julho 24, 2010

Random

- E aí...

- Eái.

- Você escreve bastante, né ?

- É. Bastante...

- O que você escreve?
Jornalismo, ficção, poesia ? Ahhh! Algo sobre moda, não é ?

- Normalmente as coisas estúpidas sobre a vida.
Nada profundo, eu quero dizer. Coisas aleatórias. Bem random...
Como observações gerais.

- Random é bom.
Eu gosto de coisas aleatórias.

- Sim, estamos em aleatório agora.

- Nós com certeza estamos !



B.

julho 22, 2010

Protegida

A senha do cartão do banco estava errada.
11 horas da manhã, a vontade de sair dalí e procurar um lugar seguro para se esconder do resto das pessoas. Esperou do lado de fora por quase uma hora, os carros passavam velozes, mas tinha a impressão de que todos os motoristas olhavam para ela- não por ela chamar a atenção, mas porque era o único ser vivo naquela calçada.
Chegou um grande automóvel com um casal e uma criança: um lindo garoto com olhos verdes e sardas no rosto. Os viu entrar no banco e ficou observando aquela atividade tão rotineira; parecia um casal feliz. Ou não. Pelo menos o garotinho era bonito.
Percebeu seu reflexo na porta de vidro, o que a fez desviar o olhar por instantes. Sentiu-se estranha, seu corpo estava diferente. Por muito tempo não se olhava de corpo inteiro frente à um espelho. De fato, portas de banco não são espelho, o que a fez pensar 'é impossível eu estar gorda'. Ficou muito tempo observando sua roupa, parecia uma boneca.
O casal saiu do estabelecimento, e seu coração pulou. Eles não podiam ir embora, pois ela se sentia protegida com eles alí; então resolveu se afastar, atravessou a rua (e somente isso). Ficou parada, do outro lado da calçada, onde ainda dava pra ver seu reflexo na porta. O casal se foi.
Escondeu-se entre os veículos estacionados, estava segura (mas não por muito tempo...). Ela não desconfiava do que estava por vir...




B.

julho 21, 2010

Spotless mind


Depois de uma bela cena do filme, virou-se afim de passar uma mensagem de 'eu me lembro' para ela. Ela estava emocionada, rosto brilhando pelas lágrimas que escorreram. De fato a cena do filme era triste, uma despedida, mas só as mais sensíveis pessoas a sentiriam para se emocionarem.
Ao ver essa imagem, sentiu algo estranho, que o levou a presenteá-la com um longo beijo. Nesse momento, o filme foi pausado e ele iniciou a conversa.

- Nunca quis ninguém como te quero.
- Eu também.
- Mas eu tenho tanto medo...
- De quê ?
- Eu tento viver o 'hoje', mas não consigo...
- Do que você tá falando ?
- ... Minha vida nunca foi muito boa, e o que têm acontecido pra mim, são coisas que eu nunca quis viver, pois pra mim, não é real.
Pôs-se a chorar. Não queria demonstrar aquela emoção, não queria parecer fraco nem covarde diante dela. Mas a dor foi tanta que soluçava a cada segundo.
De fato a vida fora severa com ele. Já havia passado por diversas situações ruins, que o derrubara. Mas também havia vivido ótimos momentos, conhecia a felicidade. Mas para o que ele sentia por ela, momentos não era o suficiente.
- É real ! É de verdade ! Confia na gente. Fica comigo.


Confiança; como confiar em duas pessoas, simultaneamente, sendo uma delas um 'eu', e a outra um 'você' ?
Que tipo de confiança deveria ser aplicada pra esse caso ? de que forma ele iria sentir-se mais seguro ?
O tempo era um bom amigo dos dois. Demorava muito para passar quando estavam juntos. Porém demorava ainda mais quando estavam longe.
Eles confundiam botar mais fé no futuro, ou aproveitar o presente. O hoje pra ele era bom, o amanhã era, vezes melhor ainda, vezes assustador - havia uma estranha neblina naquela ponte que eles caminhavam, não dava pra saber o que viria depois do hoje.
A vida não podia ser tão injusta. Ou podia.
Deram continuidade ao filme. E não apagaram aquela conversa da memória.



Enfim, não me apague da sua memória.




B.

julho 15, 2010

Tanto que aprendi de amor

Tanto que aprendi de amor na vida
E agora descobri
Que não sei nada mais
Força eu fiz pra ter só boa companhia
Hoje eu gosto demais
Sabe, até falta ele me faz
Sabe, eu tentei não compreender
E dei pra relembrar as coisas más
Pra esquecer

Tanto que aprendi de amor
Tanto, e daí ?
Na hora de fugir não me senti capaz
Quero o que me sobra dele em mim
A boa companhia
A vida que ele traz
Força eu fiz... mas já não faço mais
Sei onde me leva essa ilusão
Mas não amar também me tira a paz
E a emoção.





B.

julho 12, 2010

A faca e a caneta.

Sobre isso aqui...
Eu não sou obrigada a nada. Não sou obrigada a escrever nisso, a ter sempre bons textos, a contar sobre meu dia. Não é de hoje que escrevo, que descanso meu coração com poesias, músicas, textos, diários.
Isso é apenas uma exposição e um arquivo.
Não me perguntem pra quem escrevo, nem o significado de certas coisas antes de terem algum palpite. Vocês precisam saber que sou alguém de entrelinhas. Ninguém é obrigado a ler, no entanto me surpreendo com a quantidade de pessoas que vêm me questionar sobre minhas dores.
Escrevo porque me vejo diante de uma faca e uma caneta, e tudo o que sempre tive foi um papel. Chega a noite, o sol vai embora, tudo se apaga de forma que eu só consiga enxergar minha mente. Vejo milhares de palavras, imagens, sons, frases embaralhadas... meus pensamentos se confundem, eles passam como se estivessem indo para algum lugar às pressas (eu não sei para ondem vão). Então eu tento organizar tudo para tirar uma conclusão. E a conclusão é o que eu escrevo aqui.
Diante da faca e da caneta, sinto uma forte dor também conhecida como interrogação, me vejo diante de uma escolha difícil, porque é a faca que me atrai [Faca: o Arlequim]. Mas a caneta é o objeto que eu mais segurei enquanto a outra mão se esfregava nos olhos, desembaçando-os pelo choro, caneta me faz continuar. Eu sempre quis continuar [Caneta: o Pierrot].
E vocês continuarão lendo (ou apenas passando os olhos nas minhas linhas) enquanto minha escolha for a caneta. Nunca tirem o papel de mim.
Por favor, não me perguntem o que vai acontecer se um dia eu optar pela faca ! (não sem antes terem um palpite).


Escrevo enquanto o vapor do chá embaça meus óculos.




B.

Roleta Russa

Respire, profundamente
Acalme-se
, ele me diz
Se você jogar, você joga para ficar
Pegue uma arma, e conte até três

Eu estou suando agora, me movendo lentamente
Sem tempo para pensar, a minha vez de ir

E você pode ver meu coração batendo
Você pode vê-lo através do meu peito
Estou apavorada, mas eu não vou desistir
Eu sei que tenho que passar neste teste
Então, basta puxar o gatilho

Faça uma oração para si mesmo
Ele diz para fechar os olhos
Às vezes ajuda
E então eu tenho um pensamento assustador
Que se ele está aqui, significa que ele nunca perdeu

Enquanto a minha vida passa diante dos meus olhos
Me pergunto, verei outro nascer do sol?
Muitos não têm a chance de dizer adeus
Mas é tarde demais pra pensar no valor da minha vida

Então, basta puxar o gatilho.



[Russian Roulette - R.]
B.

julho 10, 2010

O obrigado.

Eu não sabia quem era ele, nem imaginava sua graça, muito menos onde ele dormia. Sabia que ele escrevia há anos, que era triste, que não tinha vontade de nada, que era problemático, que mal tinha amigos, que devia usar algum tipo de droga (ou não), que ouvia música boa, que vestia calças justas. E que era gay. Mas na verdade, eu não tinha tanta certeza disso, como tinha de outra coisa, que pra mim, era o que mais importava: Ele não só queria, como precisava ser feliz.
E quando percebi isso, senti uma vontade imensa de tentar. Tentar o que ? Tentar fazê-lo feliz ? Euuu ? Soaria ironia. Não. Eu me sentia incapaz. Ora porque eu não era tão feliz assim. Ora porque talvez ele me achasse muito idiota se eu o revelasse.
Ele não sabia quem eu era. Demorou um mês, mais ou menos, para eu falar com ele. E, na verdade, eu nem falei nada, só apareci em sua frente. Então, ele descobriu que eu existia e me disse algo... algumas poucas palavras.
Só que ele me disse, simplesmente, a melhor palavra que ele poderia dizer. Essa mesma palavra que hoje, depois de tantos meses, ele repete (com outros sentidos).
Ele me disse Obrigado.
Ele me agradeceu pela fina chuva que fazia naquele dia. Mas não importa o porquê, nem pra quê, nem nada. Esse foi o começo, um agradecimento.
Eu estava viva. Ele também. Então, eu esqueci se era feliz ou não; capaz ou não; e resolvi tentar.
É. Eu tentei.



B.

julho 07, 2010

Arraste-se.


Aquele dia estava sendo muito ruim, não tanto como o anterior, mas ainda assim, muito ruim. Eu tinha rolado pela cama a noite toda, pensando no que eu deveria fazer quando te visse. Tinha certeza de que conseguiríamos conversar, lavar as roupas tão sujas, e quem sabe, ficarmos bem. A verdade é que eu estava morrendo de vontade de falar com você.

Eu me sentia abandonada, sozinha numa estrada que nunca tinha passado antes. Você era quem eu procurava imediatamente quando me decepcionavam, quando me sentia triste, ou extremamente feliz. Com você eu não me sentia sozinha. E dessa vez, era sem [justamente] você que eu estava. Seria justo conversar sobre nossa situação sobre você mesma ? Chegar e desabafar pra você minhas mágoas sobre você ? Pedir conselhos sobre você e eu para você ? Não achava uma solução.
Não tinha pra onde correr. Apenas duas ou três pessoas estavam sabendo o que estava acontecendo, e estas não haviam gostado da minha reação. Tentei conversar sobre o que eu sentia com duas pessoas que confio (especificamente, uma amiga, e meu namorado), mas eu não podia dizer exatamente a causa da minha angústia, porque pra vocês duas ainda era um segredo; então tentava descrever minha dor sem ser explícita.

Chegou o dia.
Eu estava sentada em uma cadeira, no palco. Abri um livro, eu o folheava quando você se aproximou.
Trocamos palavras, nós sorríamos- mas não de alegria, era aquele sorriso de 'sinto muito'.
Meu coração apertava, estava rasgando meu peito, não aguentava mais segurar... e então, comecei a chorar. Foram lágrimas tão sinceras, tão doloridas, que você encostou minha cabeça em seu ombro tentando um abraço. O abraço: ele poderia significar uma cicatriz pra toda aquela ferida, ou um reenlace, ou a costura de uma roupa rasgada. Mas ele foi desolado, e quando te abracei, era como se estivesse caindo naquele chão sujo.
Você pediu pra eu não chorar; abaixei a cabeça deixando meu cabelo esconder os olhos, desviei meus olhos para meu livro, fingia prestar atenção nele, até que uma lágrima escorreu, pingando na página, o que denunciou que meu choro era intenso.
Você se levantou, se afastou, foi para perto das nossas amigas, e me deixou alí, de cabeça abaixada, desaguando.
Nesse momento eu senti vergonha de mim. Eu tinha uma peça para ensaiar, uma personalidade fria para fingir, e tudo o que queria, era ir pra casa. Eu me senti fraca demais, porém algo havia ficado destacado naquela cena: Eu ainda te amava muito. E ainda estava muito magoada.

"[...] Desculpa se fugi dos seus olhos naquela tarde, mas eles derramavam lágrimas e eu não podia derramá-las também, seria uma fraqueza que não podia demonstrar. "

Você registrou uma justificativa, e eu a li.




[Texto escrito para Bea Marques.]




B.

julho 05, 2010

A caixa.

O que eu queria era ter inspiração para escrever um texto que você leria de verdade. Que você não apenas passasse os olhos pelas minhas linhas.
Eu queria te dar um livro também, e dentro dele ter uma carta minha, você podendo assim usá-la como marcador de páginas.
E eu queria também abrir aquela caixa. Na caixa tem estilo, música, e sexo. Tem alguns vinis do Sex Pistols, uma cama, uma barra de chocolate branco, e meias-calça.
Façamos assim: enquanto tento abri-la, você coloca uma de suas mãos sobre a minha. E com a outra, segure um espelho para eu poder conhecer também meu olhar de desejo.
Eu queria que meu violão empoeirado, largado no canto, fosse seu também.
Não sei qual é o meu problema, eu gosto de quando o dia amanhece e você permanece falando. Gosto da minha voz se alterando de agudo-doce pra grave-cansado. Gosto dos meus olhos fechados imaginando coisas (creio que sua imaginação seja ainda melhor que a minha). Gosto de risos desnecessários. Gosto que me faça perguntas. Gosto de responder perguntas. Gosto de te fazer perguntas. Gosto de suas respostas. Gosto de quando perguntamos um ao outro se temos perguntas.
Enfim, gosto de você.


Um sentimento ?
Amor. Amor próprio.
Um desejo ?
A caixa.



B.

julho 02, 2010

Só de passagem ?

Violenta, grossa, revoltada.
Um muleque num rosto de menina delicada e vestidos floridos.
Quem nunca quis conhecer o amor, um namoro fake. E amizade significava cumplicidade. E nada mais.
Eu sei. Todos duvidavam de sua sexualidade. E você também duvida que sou fiel.
Fidelidade ? Não mesmo, não do seu ponto de vista. Baladas lotadas, shows punks, brigas, mil garotos, mil garotas, beijos, sexo, madrugada. Não conhecer ninguém, não me conhecer.
Meus poemas lésbicos nunca te agradaram.
Sem paciência. Alguma menina idiota dizendo que não conheço a trajetória, se achando melhor e mais experiente.
Meus amigos. A maioria problemáticos, punks, drogados, braços manchados pelas seringas, olhos escuros, lábios pálidos, marcas de bala na perna, pais presos, filhos com garotas de onze anos.
Realidade. Cuspa no chão. Um vocabulário com palavrões.
Sujeira, tente outra vez.
Seja obediente, quem sempre ditou as regras fomos nós.
Vida por vida, nem faça.


Viemos para causar.
E se fosse pra eu estar aqui só de passagem, nem viria.




B.