julho 25, 2010

Seus desenhos

Naquele momento, o relógio marcava 23h, e ela esperava para fazer uma ligação.
A madrugada passada tinha sido muito solitária, o dia amanhecera péssimo, ficou trancada em sua casa pensando besteira. Achava que até mesmo o pano de chão sofria menos tédio que ela.
Dias chuvosos sempre atrapalhavam de alguma forma. A chuva tinha tudo para ser bela, mas insistia em ser sua inimiga. O que seriam dos dias sem chuva ? Dias bons - pensava consigo.
Quando o relógio marcava 00h, no passado, era hora de botar suas ideias no papel. Ela desenhava. Detestava seus desenhos, mas era tão confortável sentir o coração na boca (exposto ao mundo sujo em que vivia) enquanto o fazia; sentir o pulsar sobre sua língua... Só que as coisas tinham mudado durante os meses: tinha muitas ideias mas faltava inspiração. E também mãos. Há algum tempo havia perdido suas mãos para outros afazeres, e desenhar - imaginava ela - seria muito complicado.
Julgava-se fracassada. Era uma das únicas coisas em sua vida que ela entendia e TALVEZ fosse talentosa, (não era inteligente; não era bonita; não escrevia bem pois não sabia escolher palavras; não tinha dinheiro sobrando; e não era alguém agradável.) e justo nisso, ela falhava. Falhar talvez nem seja a palavra certa, pois ela amaldiçoava tudo ao redor antes mesmo de tentar encaixar o lápis nos dedos e riscar o papel.
Conforme os dias passavam, era uma folha a menos no calendário, e ela não tinha feito nada; nenhuma tentativa. O tempo estava acabando.
Sua decisão foi a pior possível: esperar. Espera pela inspiração, esperar a chuva passar, esperar mais folhas de calendário serem descartadas, esperar por um dia inútil pra ela jogar fora. Faltava-lhe, visivelmente, atitude. E ela parecia estar ciente disso. Ela precisava de ajuda.
Mas não agora, pois chegou a hora de ela fazer a ligação. Afinal, esperava por isso também.




B.

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