fevereiro 04, 2013

Navy


A cor vermelha, que geralmente associada à atração e confiança, jamais teria esses significados provados se não fosse a cor de seus cabelos vibrantes.
A atração nunca seria consumida se não fossem constantes tentativas de verbos perdidos entre tardes maçantes de trabalho.
A confiança nunca seria plena se não fossem vários verbos, adjetivos, palavras soltas pela boca, ou por dedos ansiosos em teclados de madrugada, insistindo em conversas sólidas ou líquidas, ou quaisquer características provindas daquela que, prova o vermelho em seu nome, nome de espécie de insetos vermelhos.
Trabalhávamos em um grande navio azul Ciano. Mas de todas as cores, eu ainda preferia o vermelho.
A porta do navio nunca se abriria, o ciúmes nunca seria excitado e a delícias nunca seriam desfrutadas se não fosse uma combinação de almas, perpétuas, no mesmo ambiente de trabalho.
"O trabalho é a coisa mais importante da vida", dizia o Marinheiro, não-mais-só.
O que seriam das almas, perpétuas, se não o trabalho?
O que seriam dos pensamentos tristes e enfurecidos, senão o trabalho?
O que seria de mim, pobre pequena plebeia perdida, senão a navegante de cabelos vermelhos?
A navegante era guiada pelo marinheiro, mas afirmava a todos que sua viagem não era à toa, e que não estava só de passagem. Que tinha missões, metas, objetivos e que as cumpriria com prazer e sem pudor - e, jamais, por mais de seis mil reais por mês, muito menos na Suíça.
A navegante navegou entre os mares mais escuros, entre as águas mais profundas, afogou-se vezes em lágrimas, mas secou muitas delas para que seu barco não afundasse.
A navegante me ajudou a remar nos dias mais difíceis, nos dias em que a comida não era suficiente para trazer força nos braços e nem mesmo outros marujos poderiam me ajudar.
A navegante não era sóbrea nem hébrea, não era homem nem mulher, nem mulher, nem menina. Apenas uma alma, perpétua, cheia de vida, cheia de sangue vermelho, cheia de palavras para serem ditas em horas exatas, principalmente por sua boca, vermelha de batom.
Entre todos os barcos, entre todas as águas, entre todos os mares, dentro e fora, entre tempestades e boas pescas, entre sereias e montros, entre âncoras e timões, entre um ambiente de trabalho, pedi que me ajudasse a remar, justamente, a uma bela navegante de cabelos vermelhos.
E se um dia o navio naufragasse, nossas almas, perpétuas, se separariam? Não responda. Não quero ler até o fim do livro que conta a história de nossas vidas.



[Texto escrito sob inspiração e dedicado à Joana Guimarães]

B.

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