janeiro 15, 2013

Da paz inabitável

Pior que uma facada entre as suas costelas, era a tortura de sentir a faca sendo girada dentro de seu peito, se enroscando em suas veias e artérias como garfo no macarrão. Se pudesse descrever a dor que sentiria pelo resto daquele dia, faria tal comparação grotesca.
Ainda se surpreendia com tantas desgraças que seus relacionamentos pessoais lhe rendiam. Tentava conversar mesmo que vagamente com seu amante, este que lhe ignorava não propositalmente... mas a frequência com que o fazia, faria qualquer um afirmar que era sim de propósito. Fora isso, tinha uma amiga muito próxima, porém tão próxima quanto ocupada. Mal podia responder as mensagens deixadas em seu celular com sua viagem interminável de trabalhos e as mil reuniões que participava assiduamente na empresa onde trabalhava. E numa última tentativa falha de se pronunciar, resolver fazer as pazes com seu possível melhor amigo apenas porque não tinha outra saída. Se não fizesse as pazes para desabafar, não teria mais com quem conversar, logo, se engasgaria com suas preocupações. Seu melhor amigo, sem escrúpulos, riu e debochou de seus problemas como se fosse Deus.
Sozinha, engoliu aquelas preocupações presas na garganta, e pôs-se a chorar entre quatro estreitas paredes de um banheiro. Conversou consigo mesma e se criticou, se questionou e por pouco não se bateu por tamanha tristeza que lhe dominara o peito. Pelo resto daquele dia.
Tentou de várias formas afastar a tristeza. Tentou distrações belas e feias. Tentou sorrisos falsos e gargalhadas sarcasticamente verdadeiras. Mas quando uma dor se instala no peito, ela toma conta de qualquer outro sentimento possível de prazer.
Observou um rosto inchado no espelho e com vergonha de si própria, repetiu ao reflexo:
- "Eu - não - aguento - mais."
Limpou a última lágrima que escorrera em seu rosto, e voltou a trabalhar. Percebeu que ninguém ao redor advinharia seus problemas, mas também ninguém se preocuparia caso soubessem que estava tão ardentemente machucada. Não chorou mais. Pelo resto daquele dia.



B.

4 comentários:

  1. saudade dos seus textos :D (é triste mas eu não pude deixar de sorrir no final)

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  2. Espero que continue lendo e sorrindo ou chorando...

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  3. espelho. quero saber quem te deu permissão pra me desenhar com tuas letras. sou eu, bem ali. e se hoje eu já não tivesse chorado tudo o que dava, eu tinha deixado escorrer mais um pouco de mim agora. agonia. agonia de matar.

    beijo, beijo.

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