julho 07, 2011

César

Era um dia ruim, sem sol, no qual eu poderia ter colocado qualquer roupa que me apagasse ainda mais nas ruas vazias e feias da cidade. Mas escolhi algo que sem querer me destacaria.
Caminhei até o cruzamento onde cada esquina há uma loja cara de roupa, e antes de atravessar a rua, percebi que estava sendo olhada por ele. De longe ele se destacava pelo cabelo mais claro na raiz, encostado na parede aquecida de uma das lojas do cruzamento. Ele fumava um cigarro enquanto me olhava desde os pés, indiferente, reparando na minha roupa.
Eu resolvi entrar pelo outro lado da loja para não encará-lo, mas ao entrar, ele subiu os três degraus, localizados ao lado da parede aquecida, jogou o cigarro no chão, e entrou na loja.
Fiz de tudo para não olhá-lo nos olhos, e consequentemente não ter que cumprimentá-lo. Eu me perguntava o que ele estaria pensando naquele momento. Talvez ele se surpreendera comigo, afinal estou diferente da pessoa que ele conheceu na época. Ou simplesmente gostaria de sorrir pra mim.
Eu, covarde, fiz de tudo para não virar, não olhá-lo nos olhos, e não cumprimentá-lo. Mas em uma loja com quatro paredes e nenhum corredor, seria impossível.
Eu olhei para o chão, coloquei as mãos dentro do bolso da jaqueta, e rapidamente desci três degraus, localizados ao lado de uma parede aquecida. E em pensamento, disse "Adeus, César."



B.

7 comentários:

  1. Já perdi as contas de quantas vezes tive um César em minha vida.

    Mas nunca disse adeus. Nem em pensamento.

    Odeio isso.

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  2. Destacada aos olhos de César ;)

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  3. "Esquecesse o que fizeste comigo, César?"

    Pensei isso também.

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  4. SAUDADEEEEES LINDA
    NÃO DEMORE TANTO PARA REAPARECER!
    CONTINUA LIGEIRA NOS POSTS!

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  5. Acho bem que já fui você passando por César.

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  6. Sai um César, vem outro, assim como outros também sairão e chegarão várias vezes. Ótimo texto.

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  7. Olha só, eu também meio que "disse" adeus à um César sem olhar-lo nos olhos, num local onde não dava para despistá-lo, mas ele também não olhou para mim, não diretamente, então acho que deu na mesma. NO fim, tudo não passou de suposições da minha cabeça e quando, depois de muito tempo o encontrei, me senti feliz em dizer adeus da minha vida.

    Lindo texto, como sempre. (já não tenho nem mais vocabulário para te elogiar XDDD)

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